O Vento Será Tua Herança (Inherit The Wind – 1999) “O vento será tua herança” se trata de uma adaptação do filme da década de 60 que se ambienta no estado norte-americano do Tennessee, retratando um julgamento ocorrido em 1925 debatendo a Lei Butler, lei esta que proíbe professores de escolas públicas de negar o relato bíblico da origem do homem. Em uma época onde a religião era considerada como verdade absoluta, a verdade que o cristianismo pregava, entra em confronto com o evolucionismo darwinista do século XIX, que acaba contrariando a forma descrita na Bíblia. O conflito começa quando um professor de Biologia foi preso porque estava ensinando darwinismo e evolucionismo aos alunos, infringindo a Lei Butler, assim sendo preso e seu caso ganhando dimensão nacional, principalmente pela escolha dos polêmicos e famosos, advogado de defesa e promotor. Pela cultura local sendo posta em prova com os tais ensinamentos d o professor Bertram Cates, a cidade se põe contra o réu, organizando até manifestações de repúdio. Além de todo conflito, a noiva do professor, se encontra em um conflito interno com o pai, um personagem fanático e defensor dos ideais cristãos. Dando início ao julgamento de Cates, este que durou quatro dias, a estratégia da defesa era defender “o direito de ser diferente, de pensar e de ter conhecimento” no primeiro dia. Já a estratégia da promotoria foi se utilizar o tempo todo do fanatismo religioso em conjunto com o ódio e a ignorância, chegando a pedir que a defesa “não confunda coisas materiais com realidade espiritual” e que “não se questionasse as verdades da Bíblia Sagrada”. Ao chegar o segundo dia de audiência, a defesa tenta trazer cientistas evolucionistas para falar, sendo proibidos pelo juiz causando grande descontentamento pela parte da defesa, pois claramente a única verdade que seria relevante para o caso, seria a dita pela religião cristã transformando o caso em uma discussão de ideologias, onde a razão do homem não era tão valorizada. Sendo assim, no terceiro dia, a medida tomada pela defesa, foi de questionar se tudo deveria ser levado ao pé da letra, trazendo argumentos
científicos e tentando mostrar que a razão e o poder do pensamento era algo especial e que não deveriam coibir as pessoas de que se manifestem. No quarto dia, o veredicto é unânime e o réu é condenado a pagar uma multa de U$ 100,00, que causou indignação na promotoria que considerava um crime até hediondo, causando alvoroço e uma cena de forte devaneio de Brady, promotor do caso, o qual acaba morrendo logo após de uma tentativa falha em discursar. O desfecho traz o advogado de defesa Henry Drummond após de reconhecer a fé e o grande homem que Brady era, e levando consigo tanto o livro considerado o mais importante para a ciência, juntamente com a bíblia. O filme apresenta um choque cultural que demonstra como a cultura da intolerância e do fanatismo é algo negativo, mas que deve ser respeitada. Uma postura acertada é defender a tolerância e a alteridade cultural, pensando até na possibilidade de um hibridismo cultural. Este choque, conflito ou enfrentamento, não é algo que possa ser considerado ado, e que hoje esteja superado. A teoria da evolução continua a ser questionada com argumentos muito fracos, e a crítica da religião com base em postulados evolucionistas é em muitas ocasiões tremendamente simples. A lei questionada no filme acaba sendo contraditória ao artigo 18 da Declaração universal dos Direitos Humanos que fora criado décadas depois, onde toda a pessoa tem direito à liberdade de pensamento, de consciência e religião. Este direito inclui a liberdade de mudar de religião ou de crença, assim como a liberdade de manifestar a sua religião ou crença, individual e coletivamente, tanto em público como em privado, pelo ensino, a prática, o culto e a observância.