O HEAVY METAL NO ENSINO: DESMISTIFICANDO IDEIAS E SUPERANDO PRECONCEITOS PELO CONHECIMENTO HISTÓRICO George Ramon Dimbarre - UEPG1 Silvana Maura Batista de Carvalho - UEPG2
Este trabalho situa-se no campo de pesquisa no ensino de História, no âmbito do desenvolvimento de materiais auxiliares para aulas sobre movimentos culturais, movimentos sociais e relações entre História e música. As experiências obtidas através do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência, especialmente pelo contato com os alunos do ensino fundamental do Colégio Padre Carlos Zelesny, demonstraram que existe a necessidade de aprimorar as discussões sobre a influência da música para as tribos urbanas na formação de suas ideologias. Dentre as tribos urbanas, elege-se o Heavy Metal para esta pesquisa e elaboração do material didático. O Heavy Metal é um amplo movimento social e cultural que surgiu na Inglaterra no final da década de 1960, impulsionado pelo instrumental e pela temática escolhida pelas bandas da época, principalmente a “Black Sabbath”. É uma vertente cultural e musical provinda do Rock ‘n’ Roll que manteve seus conceitos de desconstrução dos valores tradicionais. Rosa (2007) analisa o Rock ‘n’ Roll como uma forte vertente musical, surgida dos anos 1950, que possui um caráter contracultural e contestatório aos padrões dominantes e socialmente estabelecidos: Essa vertente contestatória acabou dando origem a outras, além de originar, também, diversos microgrupos que, diante de uma sociedade coerciva na imposição de valores e normas onde as relações sociais se individualizavam cada vez mais, uniram-se com o propósito de questionar esses valores, expondo-os através de manifestos expressos nas músicas, nas estéticas e nas ideologias aí presentes. [...]. (ROSA 2007 p.19)
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Acadêmico do curso Licenciatura em História na Universidade Estadual de Ponta Grossa e bolsista do subprojeto PIBID de História 2011-2013./
[email protected] 2 Professora Adjunta, no Curso de Licenciatura em História da UEPG, coordenadora do subprojeto de História, do PIBID-UEPG/2011-2013, orientadora do trabalho de pesquisa.
O Rock ‘n’ Roll uniu diversas pessoas em microgrupos para discutir os valores impostos pela sociedade através da música, tendo uma ampla divulgação e posicionamento. Sua temática mobilizou diversos músicos e artistas que, através de suas obras, atitudes e vestimentas, atraíram multidões para os festivais e shows. O jornalista e músico Ian Christe, no seu livro Heavy Metal: A História Completa (2010), explica que o movimento do Heavy Metal surgiu num contexto de “decadência” do Rock ‘n’ Roll devido a acontecimentos emblemáticos como o fim do The Beatles e as mortes de Johnny Allen Hendrix, Janis Lyn Joplin e James Douglas Morrison. O Rock n Roll ou por uma crise, acompanhando a desregulamentação do sistema monetário internacional e uma crise petrolífera, nas décadas de 1960 e 1970, que afligiu vários setores comerciais no mundo, deixando muitos trabalhadores desempregados. Os músicos da banda Black Sabbath surgiram nesse contexto e compam sobre essa realidade inglesa. Mas o interesse da banda foi além do âmbito das crises, discutindo sobre os medos e sobre o pensamento da população. Christe (2010) também explica que, quando compam sobre os medos, resgataram símbolos religiosos e questionaram sua validade para a sociedade contemporânea. A Black Sabbath conquistou grande parte dos fãs do Rock ‘n Roll em pouco tempo, e sua música não se encaixava em qualquer vertente de estilo musical, dando origem ao Heavy Metal. Esse novo estilo se expandiu e atraiu milhares de pessoas ao redor do mundo que se identificaram ou simpatizaram com a temática de contestação apresentada pela banda, dando origem, posteriormente, a diversas vertentes em decorrência de outras influências musicais. Para Oliveira, o Heavy Metal é digno de reconhecimento, pois, O gênero musical em questão se originou de uma carga de valores tão fortes e distintos do padrão cultural vigente, que o mesmo acabou por conseguir, ao longo de suas décadas de existência, reunir uma quantidade enorme de pessoas a nível global que aram a dedicar sua vida ao mundo do Heavy Metal, os denominados headbangers [...] (OLIVEIRA, ano 2003, p.1 )
Além da relevância musical e grande número de adeptos, esse gênero musical trouxe consigo uma forma diferente de vestimenta aos fãs, cuja característica é fácil de reconhecer: camisetas de bandas, jaquetas e calças feitas com jeans ou couro, correntes, spikes (espinhos acoplados às roupas e órios), tatuagens, maquiagem, cabelo comprido ou curto – tudo para contestar o pensamento tradicional.
Esse visual é um reflexo da forma de agir e pensar dos simpatizantes do Heavy Metal (chamados Headbangers), chama a atenção devido à excentricidade, sendo muitas vezes alvos de preconceito e identificados por palavras que possuem uma conotação negativa na sociedade. Nesse sentido, comenta Lopes (2006) sobre os principais apelidos dados aos headbangers no Rio de Janeiro: barra pesada, corvos, satânicos e trevosos. Devido a esses apelidos e ao comportamento, é muito comum ouvir sobre as dificuldades de aceitação desse grupo nos mais diversos âmbitos sociais, tais como: mercado de trabalho, família, escola s religião. Mas por que existe esta dificuldade de aceitação? Esse problema, assim como outros de natureza semelhante, existe devido ao desconhecimento das bases e da ideologia do grupo em questão. Então, quais são seus símbolos e o que significam? E por que este grupo mantém-se fiel à sua ideologia? A música, juntamente com a sua expressão sua ideologia, são frutos do relacionamento entre o homem e a sociedade em que vive. Desta forma, sua reação cria grupos de afinidades, originando movimentos sociais e culturais que devem ser contemplados nas discussões das aulas de História. Nos livros didáticos de História disponíveis no Brasil, encontram-se diversas propostas de discussão sobre os diversos tipos de movimentos sociais e tribos urbanas, possibilitando ao aluno uma reflexão sobre a origem e os ideais desses grupos. Porém, pouco se contempla sobre a História do Heavy Metal, mantendo sua cultura desconhecida ou incompreendida pela população que não tem o a essas informações por outros meios. O conhecimento histórico pode possibilitar a compreensão dos acontecimentos em suas origens, desenvolvimento e resultados, a partir da problematização das fontes e/ou dos conteúdos históricos, sobre a história remota ou recente, por meio da mediação do professor entre o conhecimento e a realidade do aluno e o conhecimento científico produzido e recomposto no ensino de História, conduzindo o aluno à construção do saber escolar, Nessa perspectiva é que se busca uma visão mais ampla sobre o estilo musical ou cultura do Heavy Metal, reconhecendo-se a importância em desmistificar as visões distorcidas percebidas em nível de senso comum e difundidas na sociedade, pois se sabe que a falta de conhecimento pode dar origem a visões preconceituosas na sociedade, como comenta Lopes: Para parte considerável dos jovens de camadas médias do Rio de Janeiro, o gênero musical Heavy Metal é música de mau gosto, barulho, repetitivo, “trevas”, não é “do bem”, é “heavy metal”. Para boa parte de alguns professores de estabelecimentos cariocas de ensino de música e músicos adeptos de outros gêneros, o heavy metal é música de gosto duvidoso, música “ruim”, quiçá nem merecendo a designação de “música”. Quase
não há pesquisas no Brasil sobre o mundo artístico do heavy metal, escassez essa recorrente em quase todos os países com importantes estudos sobre musicalidades e “culturas jovens” – é flagrante, por exemplo, a quase obrigatória ausência de referências ao heavy metal em artigos e livros acadêmicos sobre movimentos musicais em contestação descendentes ou parte do gênero musical rock, dos anos 1970 à presente década de 2000.[...].( LOPES 2007, p. 205).
A análise do autor torna evidente o preconceito referente às produções relacionadas ao gênero musical, deixando de ser analisado como movimento cultural de importância acadêmica e social. A conotação de maldade vistas nos fãs do Heavy Metal provém da temática optada pela banda Black Sabbath em seus primórdios que, evidentemente, desconstrói valores religiosos e políticos dados na sociedade. Como exemplo, a música NIB (Black Sabbath – Black Sabbath, 1970), cria uma situação em que Lúcifer (apelando para a perspectiva da maldade cristã), apesar de ninguém acreditar em seu amor, se apaixona por uma mulher “mortal” e lhe oferece tudo o que é possível para conquistá-la, como aparece na primeira estrofe: Some people say my love cannot be true Please believe me, my love, and I’ll show you I Will give you those things you thought unreal The Sun the moon the stars all bear my Seal3 (GEEZER, IOMMI, WARD, OSBOURNE, 1970)
No documentário “The Black Sabbath Story: Volume One”, Geezer explica que Lúcifer busca tornar-se uma “pessoa melhor”, transformando a figura cristã da maldade encarnada em um ser humano que, por amor, se propõe a mudar pela amada. A música War Pigs (Black Sabbath – Paranoid, 1970) faz uma acusação aos líderes políticos, como se pode notar na estrofe a seguir: Politicians hide themselves away they only started the war Why should they go out to fight? They leave that role to the poor, yeah! Time will tell on their power minds Making war just for fun Treating people just like pawns in chess Wait 'till their judgement day comes, yeah!4
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Algumas pessoas dizem que meu amor não pode ser real/ por favor acredite em mim, meu amor, e eu lhe mostrarei/ eu lhe darei aquelas coisas que você pensou não serem reais/ o sol, a lua, as estrelas, todas trazem meu selo.
(GEEZER, IOMMI, WARD, OSBOURNE, 1970)
Portanto faz uma crítica aos governos europeus por enviarem os pobres para guerrear, enquanto os políticos maldosos permanecem impunes, os quais devem ser julgados por isso. Inclusive a imagem do mago, que já era utilizada na banda Deep Purple, teve uma nova interpretação. Na música The Wizard (Black Sabbath – Black Sabbath, 1970), a mensagem é a de que os magos, de forma anônima, devem afastar todos os demônios e espíritos ruins para que as pessoas vivessem melhor. Misty morning Clouds in the sky Without warning A wizard walks by Casting his shadow Weaving his spell Funny clothes Tinkling bell Never talking Just keeps walking Spreading his magic Evil power Disappears Demons Worry When the wizard is near He turns tears Into joy Every one's happy When the wizard walks by5 (GEEZER, IOMMI, WARD, OSBOURNE, 1970)
Dessa forma, percebe-se que, os elementos religiosos, políticos e sociais de contestação tornaram-se os símbolos prestigiados pelos Headbangers, mas essas intenções tornaram-se conhecidas apenas pelos fãs e pesquisadores do movimento. Pois, como afirma John Osbourne (Ozzy), vocalista desta banda, em sua biografia:
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Políticos de escondem/ eles apenas começaram a guerra/ Por que eles deveriam sair e lutar?/ Eles deixam este papel para os pobres, yeah!/ O tempo dirá na suas mentes poderosas/ Fazendo guerra só por diversão/ Tratando pessoas como peões no xadrez/ Espere até o dia dos seus julgamentos chegar, yeah!. 5 Manhã nublada/ nuvens no céu/ sem aviso/ o mago caminha por perto/ lançando sua sombra/ tecendo o encantamento/ roupas engraçadas/ retinindo o sino/ nunca conversando/ apenas caminhando/ espalhando sua magia/ o poder do mal/ desaparece/ demônios se preocupam/ quando o mago está próximo/ ele transforma lágrimas em alegria/ todo mundo fica feliz/ quando o mago está por perto.
Até onde me lembro, éramos apenas uma banda de blues que tinha decidido escrever música de medo. Mas, aí bem depois de termos parado de escrever música de medo, as pessoas ainda diziam: “Oh, eles são uma banda de heavy metal, então devem cantar coisas sobre Satã e o fim do mundo”. Por isso não gosto do termo.[....]. (OSBOURNE 2010, p. 200).
A cultura do Heavy Metal, por atingir um grande número de pessoas há décadas, tornou-se um amplo campo de estudos e de manifestações contra a cultura tradicional. Sobre essa questão Lopes justifica em sua pesquisa sobre a discriminação com relação à vertente musical no Rio de Janeiro evidenciando a importância do estudo do movimento: Essa “fricção cultural metálica” é a base empírica para a demonstração da hipótese da pesquisa, que afirma ser o mundo artístico do heavy metal discriminado, estigmatizado, temido e incompreendido principalmente por gerar um curto-circuito simbólico entre categorias de dado e de construído em não adeptos, ao recodificar símbolos sagrados do mal “pensados como dados” em convenções artísticas dessacralizadas (pensadas como construídas). Assim, o heavy metal se apresenta como um fértil campo para estudos de “mudança cultural”, um caso privilegiado evidenciando que os “símbolos e os códigos não são apenas usados: são também transformados e reinventados, com novas combinações e significados.[...]. (LOPES, 2008, p.202)
Essa ressignificação dos valores simbólicos, apontada pelo autor como um “curtocircuito simbólico” entre os valores tradicionais e a sua contestação é uma das grandes características do pensamento do movimento, a qual é um dos fatores de não aceitação do heavy metal, por parte de outros grupos sociais e culturais. Mas, essa mesma característica é que possibilitou a formação do agrupamento, a qual encontra-se inclusive na denominação do nome do movimento. Nesse sentido, explica Christe que a palavra “Heavy” era uma gíria hippie utilizada para descrever uma disposição mais potente de qualquer coisa. A palavra “Metal”, por sua vez, refere-se a uma força temática de contestação e uma vitalidade inquebrável. As palavras falam por elas mesmas: o escritor beatnik William S. Burroughs deu a um de seus personagens do livro Expresso nova o nome de “Willy Urano, o menino heavy metal” [Uranium Willy, the heavy metal kid]. O crítico Lester Bangs, um dos primeiros devotos letrados do Black Sabbath, posteriormente usou o termo para falar de música. Antes disso, “heavy metal” era um termo militar do século XIX, usado para referir-se ao poder de fogo de uma arma e, na química, para designar recém-descobertos elementos de alta densidade molecular. Quando John Kay, compositor de “Born to be Wild”, do Steppenwolf, citava “heavy metal thunder”, em 1968, ele estava apenas se referindo ao barulho das motocicletas; sem o Black Sabbath, a expressão seria apenas um acidente poético, a profecia vazia
contida no texto escrito por milhares de macacos brincando em máquinas de escrever, tentando escrever a Bíblia.[...]. (CHRISTE, 2010, p. 23)
As referências, específica e técnica, ao termo Heavy Metal demonstram uma carga conceitual que provém de outras áreas do conhecimento, cujo significado foi emprestado para definir o estilo que acabara de surgir. A repercussão e a temática desta vertente musical se configuraram no conceito de cultura. A necessidade de estabelecer releituras de conceitos sociais, políticos, musicais e religiosos tradicionais caracterizam uma transformação do cotidiano como forma de reação de um grupo determinado. Para Denys Cuche “ [...] A cultura permite ao homem não somente adaptar-se a seu meio, mas também adaptar este meio ao próprio homem, a suas necessidades e seus projetos [...].” ( 1999, p. 10). No conceito de Durkheim trabalhado por Cuche, “[...] A civilização de um povo não é nada além de um conjunto de seus fenômenos sociais; e falar de povos incultos, ‘sem civilização’, de povos ‘naturais’[...] é falar de coisas que não existem.[...].” (1999, p. 28). Portanto, nessa perspectiva, civilização está diretamente relacionada com a existência de um povo. Seu significado engloba fenômenos sociais e simbólicos, tornando-se assim sinônimos de cultura, que não pode ser ignorada. Dessa forma, as semelhanças culturais entre os adeptos do estilo configuraram um agrupamento ideológico que se enquadra no significado de tribos urbanas: agrupamentos semi-estruturados de adolescentes e jovens com identificação comum a estilos de vida, cultura e lazer. (OLIVEIRA; CAMILO; ASSUNÇÃO, 2003, p. 1). Essas definições de cultura e de tribos urbanas demonstram que os fãs do Heavy Metal possuem semelhanças no seu modo de pensar e de agir que se mantém desde sua criação e consolidação na década de 1970. Um dos grandes símbolos utilizados pelo referido gênero musical é o Devil Horns (Chifres do Diabo), popularizado pelo cantor Ronald James Padavona (Dio), que consiste fechar uma das mãos mantendo o dedo indicador e o dedo mínimo estendidos. Dio afirma que não utiliza o termo Devil Horns, em entrevista para o site Metal-Rules.com, comenta porque utilizou o símbolo: Duvido muito que eu tenha sido o primeiro a fazer isso. É como dizer que eu inventei a roda. Tenho certeza de que alguém já tinha feito isso antes. Acho que você deveria dizer que eu o popularizei. Eu o usei tanto e tantas vezes que se tornou minha marca registrada, até que os fãs da Britney Spears quiseram fazer também[...]. Então acho que com isso acabou perdendo o seu significado. Mas foi[...] eu estava no Sabbath nessa época. Era um símbolo que eu achava que refletia aquilo que a banda deveria representar.
Mas não é o símbolo do demônio como se estivéssemos aqui com ele. É um símbolo italiano que aprendi com minha avó e que se chamava "Malocchio". Serve para afastar o mau-olhado ou para fazer o mau-olhado, dependendo de como você o faz. Trata-se apenas de um símbolo mas tem encantos mágicos e atitudes e acho que funcionou bem com o Sabbath. Então fiquei bastante conhecido por isso e depois todos começaram a fazer a mesma coisa. Mas eu nunca diria que eu tenho crédito por ter sido o primeiro a fazer isso. Mas eu o usei tanto que acabou se tornando um tipo de símbolo do rock’n’roll.[...]. (In: http://whiplash.net/materias/curiosidades/081578dio.html#ixzz2VqQn3Bow)
O músico atribui a si, apenas a popularização do símbolo, a qual não foi feita com a intenção de fazer apologias satânicas, ao contrário de como é conhecido, a utilização foi apenas de um símbolo de encantos mágicos. Outro símbolo utilizado pelo Heavy Metal é a caveira, representada de diversas formas. Fiore e Contani, no artigo “Da Utilização Imagética de Caveiras no Universo do Hard Rock e do Heavy Metal sob a ótica Bakhtiana da Carnavalização”, escrevem sobre a intenção da utilização das caveiras baseada no conceito de “grotesco” dado por Mikhail Bakhtin, evidenciando a busca pela renovação e ressignificação da vida humana: A imagem grotesca bakhtiniana caracteriza-se pela extrema versatilidade de transformação ou de metamorfose. Diante do tempo e das fases evolutivas da humanidade, a sua ambivalente presença é extraordinariamente sentida. Encontra-se sempre a desafiar o conservadorismo, alterando o velho e incorporando o novo, permitindo a inclusão de elementos heterogêneos que reforçam o afrontamento ao senso comum. Compreende que tudo o que existe é relativo, como também que a ordem das coisas no universo pode sofrer alterações infinitas. O grotesco é dinâmico, provocando a morte do antigo e a germinação do que está por vir. ‘A morte que é indivisa: ela não a de uma fase da vida triunfante do povo e da humanidade, uma fase indispensável à sua renovação e ao seu aperfeiçoamento’[...]. É a ideia carnavalizadora de Bakhtin da morte ancorada no princípio do corpo grotesco, sempre em sintonia com o mundo, que cresce e se refaz eternamente. ( 2011, p. 7)
Segundo os autores, a mensagem veiculada sobre a morte é como uma fase da vida em que todos irão ar, por isso, é vista como um objeto de adoração, algo místico e a discussão acompanha o trajeto da humanidade que é retratado nas produções musicais do gênero Heavy Metal. Existem diversos outros símbolos dentro dos subgêneros do Rock ‘n’ Roll e do Heavy Metal, assim como diferentes ideologias e utilizações da música, o que revela a heterogeneidade desses, vistos como várias vertentes, havendo bandas inovadoras e outras que a seguem ou se assemelham à musicalidade, mas as intenções de cada uma, são
específicas. É uma espécie de rotulação que, por mais que seja por vezes discordada pelos músicos, auxilia na referência musical das bandas. Cabe lembrar que de fato existem bandas que atendem aos estigmas preconceituosos estabelecidos pela sociedade, tais como o satanismo, machismo e o fascismo, mas estas não representam a totalidade do movimento. Bandas como Dimmu Borgir e Gorgoroth fazem parte da vertente Black Metal, e estas item abertamente sua posição religiosa e cultural como satânica. O guitarrista do Dimmu Borgir, Silenoz, afirma em uma entrevista para a Roadie Crew: Em termos de ideologia, somos mais Black Metal do que todas as bandas que se autodenominam Black Metal juntas. (...) A melhor forma de nos definir é como uma banda satânica. É isso o que realmente impulsiona nosso trabalho. Black ou não, pouco importa. É apenas um rótulo imbecil.[...]. (In: http://whiplash.net/materias/news_893/067082dimmuborgir.html#ixzz2c99w3Ad3 )
Como é possível observar, a imagem proporcionada por essas bandas, por ser mais impactante para a sociedade, acaba se tornando a representação estereotipada do Heavy Metal. Em contraposição, existem bandas, como Fratello Metallo, que procuram desconstruir essa imagem, criada na década de 1990 pelo frade Capuchinho Cesare Bonizzi começou a se interessar pelo poder que o Heavy Metal tem de atrair os jovens, e criou a banda, cujo nome significado “irmão metal”. Suas letras falam sobre o mal trazido pelas drogas, do cuidado que se deve ter com o sexo e da importância da religião para a vida das pessoas. Incomodado pelo estigma do já citado “Malocchio”, Cesare ou a utilizar o símbolo com o significado de “eu amo você” (estendendo o dedo polegar, indicador e mínimo), como referência à linguagem de surdos e mudos e para a universalidade da mensagem da música. Tendo em vista esta perspectiva do movimento do Heavy Metal e os preconceitos decorrentes de sua imagem e temática, juntamente com a experiência obtida pelas ações do Programa Institucional de Bolsa a Iniciação à Docência (PIBID), Subprojeto de História, na Universidade Estadual e Ponta Grossa (UEPG), nos anos de 2011 a 2013, numa escola pública estadual do Paraná, em turmas do ensino fundamental, sentiu-se a necessidade de desenvolver um material didático que contemplasse essas discussões e auxiliasse nos estudos da História dos movimentos culturais, sociais, contra-culturais, tribos urbanas e da musica. O material esta sendo desenvolvido e será aplicado em forma de oficinas pedagógicas para
alunos do ensino médio, contemplando o contexto internacional das décadas de 1960 e 1970, objetivando proporcionar aos alunos uma reflexão sobre a música como documento histórico.
Referências
CHRISTE, Ian. Heavy Metal: A História Completa. São Paulo: Arx, Saraiva, 2010 CUCHE, Denys. A noção de cultura nas ciências sociais. Bauru: UDUSC, 1999 FIORE, Adriano Alves; CONTANI, Miguel Luiz. Da Utilização Imagética de Caveiras no Universo do Hard Rock e do Heavy Metal sob a Ótica Bakhtiniana da Carnavalização. Universidade Estadual de Londrina, Londrina, PR LOPES, Pedro Alvim Leite. Heavy Metal no Rio de Janeiro e dessacralização de símbolos religiosos: a música do demônio na cidade de São Sebastião das terras de Vera Cruz. Tese de Doutorado. Rio de Janeiro: PPGAS – Museu Nacional – UFRJ, 2006. OLIVEIRA, Maria Cláudia Santos Lopes de; CAMILO, Adriana Almeida; ASSUNÇÃO, Cristina Valadares. Tribos urbanas como contexto de desenvolvimento de adolescentes: relação com pares e negociação de diferenças. Trabalho apresentado no simpósio O processo de desenvolvimento do adolescente: articulando a identidade na diversidade, nos contextos e com outros na XXXII Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Psicologia. Florianópolis: Universidade de Brasília, 2003 OSBOURNE, Ozzy. Eu sou Ozzy. São Paulo: Saraiva, 2010. ROSA, Pablo Ornelas. Rock underground: uma etnografia do rock alternativo. São Paulo: Radical Livros, 2007 http://www.metal-archives.com/bands/Fratello_Metallo/3540258167 http://whiplash.net/materias/news_893/067082-dimmuborgir.html#ixzz2c99w3Ad3