Culto No Novo Testamento 3j591t

CULTO NO NOVO TESTAMENTO

INTRODUÇÃO A igreja de Cristo não é uma instituição religiosa que realiza ritos espirituais. É, antes disso, e por definição, como nos diz a 1ª epístola de Pedro, o povo de Deus, vocacionado por Ele para oferecer sacrifícios espirituais aceitáveis através de Jesus Cristo, e para proclamar as obras maravilhosas da Sua graça (1Pe. 2-5-9). 1 Os princípios básicos acerca das práticas da Adoração na igreja primitiva, que estão contidos no Novo Testamento, nos leva a perceber que a Igreja é, na verdade, um templo espiritual, construído para a glória de Deus e para adorá-lo, uma comunidade adoradora, participante de uma nova aliança, e tudo isto traduzido em forma de culto. O fato mais significativo sobre o culto no Novo Testamento, segundo John Frame 2, é que ele se centraliza em Jesus: “Cristo traz para o seu povo um maior livramento que a libertação da escravidão egípcia no Antigo Testamento, Ele liberta seu povo dos pecados e transforma-o num povo de Deus, judeus e gentios, juntos num único corpo e para prestar-lhe culto.” A partir desta perspectiva do Novo Testamento, vamos discorrer sobre as práticas do culto cristão que são os aspectos principais da adoração cristã primitiva.

A CENTRALIDADE EM CRISTO: No Novo Testamento percebemos que o fato mais significativo sobre o culto é que ele está centralizado em Jesus: 1. Em Jesus nos encontramos com Deus (Jo.1.14) – O apóstolo Paulo nos faz várias referências a respeito da obra de Cristo como motivo para louvarmos com alegria ao Senhor (Rm.9.5; 11.33-36; Ef.1.15-23; 3.14-21). 2. Jesus é o sacrifício final e cabal pelo pecado (Hb.10.1-18; Ef.5.2; Mc.10.45) – Assim, põe-se um fim às ofertas de animais que deveriam ser feitas continuamente no A.T. Sendo o sacrifício de Jesus suficiente para tornar santo o seu povo, de uma vez por todas (Hb.10.10). 3. Jesus representa o último sumo sacerdote (1Tm.2.5) – Sendo ao mesmo tempo Deus e homem, ele é o mediador final entre Deus e os homens. Um sacerdote não segundo a ordem de Arão, mas segundo a ordem de Melquisedeque (que aparece do nada na narrativa de Gn.14.18-20 e oferece “pão e vinho” a Abraão, sem genealogia e sem qualquer referência anterior ou 1 2

MARTIN, Ralph P. Adoração na Igreja Primitiva – Ed. Vida Nova. 1982. – pág.11 FRAME, John. Em Espírito e em verdade. John. Ed. Cultura Cristã. 2006. – pág. 40

posterior a esse encontro). E como último sumo sacerdote, trouxe seu próprio sangue como sacrifício perfeito e permanente pelo pecado (Hb.9.11-21). 4. Jesus é o Tabernáculo e o Templo de Deus (Jo.1.14) – Assim, Cristo como último sumo sacerdote, apontado na carta aos Hebreus, ministra em um Tabernáculo muito maior que o templo do Antigo Testamento, sendo o próprio Jesus o Tabernáculo de Deus com o seu povo. Jesus é, portanto, a habitação de Deus com os homens. Portanto, toda a mobília do tabernáculo e do templo falam de Cristo (Hb.9.1-5): A bacia (batismo), Os candelabros (Cristo a luz do mundo), O pão da propiciação e o maná (Ceia do Senhor), O altar do incenso e a vara de Arão (Jesus sacerdote), O Santo dos Santos (que foi aberto por Jesus), A arca, trono de Deus em Israel (Jesus o Deus conosco), As tábuas da Lei (Cristo, a Palavra eterna de Deus). 5. Jesus é o Senhor do sábado e o ponto central das festas anuais (Mt.12.8) – Ele é o cordeiro pascal (Jo.1.29; 1Co.5.7). É Ele quem envia Seu Espírito no Pentecostes, que cumpre o dia da expiação através do seu próprio sangue, quem personifica a festa dos tabernáculos ao habitar para sempre com o seu povo (Jo.1.14). 6. Jesus é o verdadeiro Israel de Deus (Gl.6.16) – E aqueles que estão em Cristo são herdeiros das promessas feitas pelo Pai Abraão. Temos a circunsisão mais notável e que nos faz povo santo de Deus (Fp.3.3).

O CULTO NO SENTIDO MAIS AMPLO: As grandes mudanças do Antigo e do Novo Testamento implicam nas grandes mudanças do culto. Como novo Israel em Cristo, a igreja cultua de forma paralela ao Antigo Testamento, no sentido de que cada ordenança do AT, como já vimos, é cumprida em Cristo. No culto do Novo Testamento também há uma aliança, um sacerdócio, um tabernáculo, sacrifícios, circunsisão, expiação e festas. Mas, na prática do culto, há grandes diferenças porque tudo isso existe agora em Cristo e somente nele. O culto em Cristo, no Novo Testamento, pressupõe e cumprimento completo e cabal da redenção esperada pelos Judeus do AT. Assim, no NT, o culto tem um sentido mais amplo: uma vida de obediência à Palavra de Deus, um sacrifício de nós mesmos e submissão aos Seus propósitos. Nossa vida como um serviço sacerdotal, nossa honra e louvor ao Senhor da nova aliança. Deus não exige mais todos os ritos cerimoniais. Todos eles já se cumpriram em Cristo.

AS REUNIÕES CRISTÃS NO NOVO TESTEMANTO: Apesar de tudo, não podemos interpretar que no NT não houvesse nenhuma ordenança ao louvor e oração comunitários, ou reuniões e celebrações. Haviam reuniões sim. Desde os primeiros tempos da igreja primitiva os crentes se reuniam e se regozijavam com o encontro entre os irmãos e experimentavam as bênçãos do Espírito Santo (At.1.6,14; 2.42-47; 4.23-31; 13.2; 20.7-38; 1Co.11.18-34; 1Pe.3.21). Nestas reuniões, os cristãos se encontravam para orar, louvar, ensinar, celebrar a Ceia do Senhor. Nestas reuniões pronunciavam publicamente os julgamentos de disciplina eclesiástica (1Co.5.4,5), recebiam ofertas para os irmãos com necessidades especiais (1Co.16.1,2) e cumprimentavam-se com “beijo santo” (Rm.16.16; 1Co.16.20). Porém, na visão neo testamentária, o culto público não é algo opcional, como alguns pensam. O escritor ao Hebreus nos garante: “Não deixemos de congregarmos...” (Hb.10.25).

O CULTO PROPRIAMENTE DITO: É verdade que o NT não descreve as reuniões dos crentes da Igreja Primitiva como “culto”. Alguns até acreditam, baseados na concepção que o NT nos traz, que a nossa vida toda é culto. De maneira geral, muitos associam a palavra “culto” à uma reunião formal em um ambiente adequado. Porém, o que precisamos entender, a partir da visão neotestamentária, é que a nossa vida, em todos os seus aspectos é culto. O que o Novo Testamento nos ensina de fato é que, quando nos reunimos como povo de Deus, em nome de Jesus, estamos cumprindo um propósito de comunhão através da adoração.

OS ELEMENTOS DO CULTO NO NOVO TESTAMENTO: O NT não nos dá uma lista sistemática a respeito do que tecnicamente seria um “culto”. Segundo Frame, podemos concluir, através dos escritos do NT, que “o serviço de culto é todo oração, uma vez que ele se realiza na presença de Deus e para o seu louvor. Todo serviço de culto é ensino, pois está baseado nas escrituras e mesmo quando cantamos hinos com bons conteúdos bíblicos estamos ensinando uns aos outros (Cl.3.16).”3 A seguir, uma lista de elementos que devem ser considerados como atos e atitudes a serem usadas no culto4:

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FRAME, John. Em Espírito e em verdade. John. Ed. Cultura Cristã. 2006. pág.85 FRAME, John. Em Espírito e em verdade. John. Ed. Cultura Cristã. 2006. pág.87-92

1. Saudações e bênçãos: Uma prática comum e regular no período do NT. Uma constante nas cartas de Paulo, uma vez que essas cartas eram, muito provavelmente, lidas nas reuniões da igreja. (Cl.4.16; 1Ts.5.27; Fm.2). 2. Leitura das Escrituras: Nas sinagogas, as Escrituras eram lidas regularmente. Também havia leitura pública da Bíblia na igreja do NT (1Tm.4.13). As cartas de Paulo também eram lidas, como vimos anteriormente, e eram de caráter normativo, portanto, também Palavra de Deus para a igreja (2Ts.3.14; 1Co.14.37; 2Pe.3.15). 3. Pregação e ensino: Pregação e ensino tanto fazia parte do serviço da sinagoga como da reunião cristã. É intenção de Deus que a Sua Palavra seja ensinada em comunidade (Ne.8.8; Lc.4.20; At.20.7; 1Tm.4.6; 2Tm.2.2; Tt.1.9). 4. Orações: A oração comunitária é parte legítima do culto público (At.2.42; 1Co.14.16; 1Tm.2.1,2) – oração de todos os tipos: louvor, petição, confissão, gratidão, etc. 5. Cânticos: A comunidade cristã do NT era uma comunidade que cantava5. Podemos encontrar diversas referências de cânticos no NT (Tg.5.13; At.16.25; 1Co.14.26; Cl.3.16; Ef.5.19,20). Vale salientar, no entanto que o Cântico é sempre um meio para realização de outros atos como: orar, ensinar, abençoar, louvar, edificar, etc. O Cântico não tem, portanto, uma função independente e isolada no culto (Ef.5.19,20; Cl.3.16). 6. Votos: Isto é um ato tipicamente público que envolve outras pessoas como testemunhas. Na bíblia o voto está associado ao culto público. No NT os votos podem ser claramente evidenciados no Batismo e na Ceia do Senhor (como renovação da aliança de Deus conosco). Todo culto público evidencia votos de consagração a Deus por parte do seu povo. 7. Confissão de fé: Todo culto público é confissão de fé. Quando nos reunimos estamos proclamando ao mundo que somos servos de Jesus e confissão resulta em salvação (Rm.10.9,10). 8. Batismo e Ceia do Senhor: Os cristãos primitivos observavam estas duas ordenanças. A descrição feita por Paulo a respeito da Ceia do Senhor nos mostra que ela era parte do culto público (1Co.11.17-34).

9.

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Ofertas e Dízimos: No AT as ofertas se referiam aos sacrifícios trazidos ao templo, no NT não existe esse tipo de oferta, uma vez que Jesus entregou sua vida como sacrifício definitivo. No NT a nossa oferta é “sacrifício vivo” (Rm.12.1), porém, há claras referências a respeito de ofertarmos nossos bens com propósitos especiais de assistência àqueles que necessitam e àqueles que vivem do ministério. Paulo diz às igrejas para fazerem coletas no primeiro dia da semana, o dia da reunião comunitária. Ele menciona também que este ato é como aroma suave aceitável e agradável a Deus (Fl.4.18). Encontramos também no Novo Testamento, o ensino do dízimo abordado de uma forma menos explícita, nos argumentos em favor de uma visão mais exaltada do ministério cristão e seu direito à justa remuneração. Paulo, inclusive, para a remuneração

MARTIN, Ralph P. Adoração na Igreja Primitiva – Ed. Vida Nova. 1982. pág.48

dos ministros do evangelho, tem sua base argumentativa nos textos do AT que se referem às entradas que mantinham os sacerdotes (1Co 9:6-14) 10. Comunhão: Devemos lembrar sempre que o amor cristão é uma marca da igreja, aquilo que a diferencia do mundo (Jo.13.34,35). Esta não é uma lista para ser usada de forma sistemática ou mecânica. São pontos importantes que encontramos no NT a respeito do culto realizado pela igreja primitiva e que podemos resumir neste texto do livro de Atos: “ E perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações. E todos os que criam estavam juntos, e tinham tudo em comum. E, perseverando unânimes todos os dias no templo, e partindo o pão em casa, comiam juntos com alegria e singeleza de coração, Louvando a Deus, e caindo na graça de todo o povo. E todos os dias acrescentava o Senhor à igreja aqueles que se haviam de salvar.” Atos 2.42-47

CULTO NO NOVO TESTAMENTO – ADORAÇÃO E SERVIÇO:

O Novo testamento nos apresenta duas ideias básicas e essenciais para definir o que é culto: Adoração e Serviço. Adoração: Segundo Shedd6, O N. T. destaca a palavra "adorar" (proskuneō - 58 vezes), entre cinco mil termos relacionados com o culto. Originalmente significava "beijar". Entre os gregos era um termo técnico que significava "adorar os deuses", dobrando os joelhos ou prostrando-se. Beijar a terra ou a imagem, em sinal de adoração, acompanhava o ato de prostrar-se no chão. Colocar-se nessa posição comunicava a ideia básica de submissão. O gesto de curvar-se diante de uma pessoa e ir até o ponto de beijar seus pés, quer dizer. "Reconheço a minha inferioridade e a sua superioridade; coloco-me à sua inteira disposição".

Com este termo, Jesus anulou a validade do culto

tradicional da mulher samaritana e de seus conterrâneos. Tanto o local como a preocupação com o templo não tinha mais importância alguma. Enquanto a mulher argumentava que era o monte Gerezim, Jesus declarou que somente "em espírito e verdade" os verdadeiros adoradores adorarão o Pai (Jo 4.23). Assim, podemos perceber que, independentemente dos ritos, do local e da forma, a adoração é o ponto principal e crucial do culto cristão. Mais do que inútil é o culto que desconhece Aquele a quem devemos submissão e lealdade. Por isso, o grau de beleza de um culto, o número de adeptos, ou a sua forma não tem importância se o adorador não estiver em contato vital com o Deus único por meio do Jesus. 6

SHEDD, Russel. Adoração Bíblica. Ed.Vida Nova. 1991

Servir: Ainda segundo Shedd, o culto implica também em serviço (latreia) usado por Jesus para responder ao diabo (Mt 4.10). Este segundo termo é empregado frequentemente na Septuaginta (90 vezes), especialmente em Êxodo, Deuteronômio, Josué e Juízes, mas apenas uma vez nos profetas (Ez 20.32). Trata-se de cultuar e oferecer atos de adoração que agradem ao Deus da aliança (Ex.4.23; 8.1; 20; 9.1). Tanto no A.T. como no N.T. a relação entre o homem e Deus não deixa de ser a de servir como escravo . Na carta aos Hebreus, que tem uma ligação mais estreita com o A.T, quatro referências (das seis) tratam do culto judaico no templo, (At 8.5; 9.9; 10.2; 13.10). Nos outros dois casos, notamos que a razão pela qual Jesus se ofereceu por nós foi para que tenhamos consciências limpas, para podermos servir (latreuein) ao Deus vivo (9.14). O autor aos Hebreus acrescenta que somente os que "têm graça" (lit.12.28) podem agradar a Deus pelo seu "serviço", oferecendo culto com reverência e santo temor. Com muita naturalidade, Paulo emprega latreia, "culto", "serviço religioso", para descrever o corpo entregue a Deus como sacrifício vivo, santo e agradável (Rm 12.1). Somente pelas misericórdias de Deus podemos oferecer tal adoração que agrade a Deus. A vida corporal representa toda a potencialidade e a capacidade do homem, inclusive sua inteligência, energia, experiência e dedicação. Uma vez ofertado integralmente, o corpo santificado como sacrifício a Deus, será aceito como culto genuíno.

CONCLUSÃO: Ao concluirmos esse breve estudo sobre o culto no Novo Testamento, ficamos com as palavras do próprio Jesus, ditas à mulher samaritana no poço de Sicar: “Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem. Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade.” (Jo.4.23-24) Assim, a adoração da igreja cumprirá seu objetivo se: O louvor vocalizar a dignidade, a beleza e a perfeição do caráter de Deus, convidando todo homem a atribuir glória somente a Ele; A confissão do pecado externar o reconhecimento da nossa indignidade e declarar nosso arrependimento pela rebelião contra a expressa vontade de Deus, rendendo-nos completamente ao seu amor e perdão; nossa oração procurar assimilar a vontade de Deus, seus pensamentos e propósitos; a mensagem, ouvida ou lida, suscitar pensamentos de gratidão, encorajamento, transformação, renovação e fé. Enfim, todos os atos de um culto devem ser, antes de tudo, os atos de uma vida que se rende completamente a Deus em adoração, submissão e serviço.