Margaret Mahler
(1981/1993) MIP
corrente psicanalista
Apresenta uma teoria do desenvolvimento que se socorre do conceito biológico de simbiose para explicar a relação estreita que existe entre a mãe e o bebé. A este período simbiótico antecede-lhe um período de algumas semanas que denominou ”quase simbolicamente (…) de autismo normal“ (Mahler, 1981, p.27) Autismo normal: estado de indiferenciação do self, de tal forma “sui generis”, que seria um período de transição, de adaptação da criança ao novo mundo extrauterino. Ela dizia que era uma verdadeira interfase entre a vida intra-uterina e extra-uterina. Nesta fase vão se estabelecendo traços mésicos das suas qualidades primordiais dos estímulos: desagradável e agradável Spitz e Mahler descreveram aspectos importantes desta fase original, mas retiraram-lhe a componente comunicacional (o bebé ao nascer já comunica com o corpo)
Fase autística Os estudos revelam que esta fase não existe. Desde o início o bebé comunica (principalmente com a figura materna); ao 3º dia já reconhece a mãe. É uma fase onde a relação com o outro está ausente. ”descreve aquele estado de indeferenciação, de fusão com a mãe, no qual o ”self“ não é ainda diferenciado do ”não self“ e onde o exterior e o interior estão apenas começando a ser gradualmente sentidos como diferentes“ (idem, p. 54) É a partir das sequências prazer-dor: - que se denomina, que se demarca a representação do ego corporal dentro da matriz simbólica. - que se modelam os impulsos e o impacto do mundo exterior - que se forma o núcleo do self A matriz simbólica ”Parece ser o ponto de cristalização central do ”sentimento do self“, à volta do qual se vai estabelecer um ”sentimento de identidade“. O órgão sensorioperceptivo contribui para a demarcação do eu do mundo dos objectos“ A criança consoante vai sentindo vai percebendo e consoante vai percebendo vai dando sentido às coisas.
- tem um predomínio fisiológico e neste período o bebé deve ser protegido contra excessos de estimulação - ter ”como objectivo a aquisição do equilíbrio homeostático pelo organismo no meio extra-uterino através de mecanismos predominantemente somatopsíquicos e fisiológicos“ (idem, p. 53) - é uma verdadeira interfase entre a vida intra-uterina e a vida extrauterina - vão-se estabelecendo ”traços mnésicos das suas qualidades primordiais dos estímulos que ocorrem dentro da matriz indiferenciada original (…)“
A partir do 2º mês: - uma consciência difusa do objecto que satisfaz a necessidade marca o início da fase simbiótica normal, no qual o bebé se comporta e funciona como se ele e a sua mãe fossem um sistema omnipotente – uma unidade dual dentro de uma fronteira comum (idem, p.53) O termo simbiose é uma metáfora Da fase autística (1) e da fase simbiótoca (2) amos a uma fase completamente complexa e prolongada que a autora denominou de fase de separação-individuação (3), fase esta que se decompõem em várias sub-fases características. 1. A primeira sub-fase é a diferenciação na qual o bebé revela uma crescente capacidade de estar atento. • Por volta dos 6/7 meses o bebé apresenta uma intensa ”exploração manual, táctil e visual do rosto da mãe, assim como das partes cobertas (revestidas) e descobertas do corpo desta (…) o bebé descobre fascinado um broche, um par de óculos ou um pingente usado pela mãe“ (idem, p.63) • A partir dos 7/8 meses observa-se um padrão visual de confrontação com a mãe que a autora e seus colaboradores (Mahler 1991, Mahler e tal, 19939 consideravam como o início de diferenciação somatopsíquica. O desacordo com Spitz é evidente, pois, a autora defende que ”nas crianças cuja fase simbiótica se desenvolveu de maneira ideal e nas quais a ”expectativa confiante“ prevaleceu. A curiosidade e o assombro (…) vêm a ser os elementos predominantes da sua inspecção a estranhos; por outro lado, crianças que não tenham conseguido atingir o ponto ideal de confiança básica podem, subitamente, sentir ansiedade em relação ao estranho“ (idem, p. 66).
A separação e a individuação são um processo estrutural que culminam na formação das ”apresentações do self internacionalizadas“ (idem, p. 72). A locomoção provoca um segundo deslocamento massivo do investimento. Nesta fase de ensaio, a criança já recebeu a mãe, de múltiplas formas, um quadro de referência em espelho (ideia defendida por vários autores) ao qual se ajusta o self primitivo. ”No processo de diferenciação uma larga parte do investimento disponível retira-se da área simbiótica para se fixar sobre os aparelhos autónomos do self e das funções do eu – locomoção, percepção, aprendizagem“ (Mahler, 1981, p.37) (Donald Winnicott) dizia que a criança ao nascer vai estabelecer a díade (relação mãe-filho), uma área de ilusão grosso modo, significa: não tenhas receio porque eu estou aqui e protejo-te. Para que a área de ilusão se estabeleça é necessário não haver descontinuidade, o bebé precisa de sentir sempre, continuamente a relação coma mãe, só isso o deixa descansado, se isso não acontecer a criança ”pega“ no seu ”eu“ nuclear e coloca-o numa parte tão recôndita, muito difícil de encontrar) • Aos 16/18 meses o infante apresenta já uma mobilidade e aventura-se à descoberta do que está em seu redor. • Estes seus movimentos de vai-e-vem são possíveis porque o bebé tem já uma ”apresentação afectiva complexa da unidade dual simbiótica, com o seu sentimento acrescido de todo-poderoso-amplificado na criança que anda, pela impressão do seu próprio poder mágico enquanto resultado do desenvolvimento das suas funções autónomas“ (Mahler, 1981, p. 40) • O andar permite grandes progressos na afirmação da individualidade e costuma mostrar um caso de amor com o mundo (Mahler e tal, 1993) • Consoante a criança vai percebendo uma concepção ideal do self e alcança o primeiro nível de identidade, o de ser uma entidade individual separada, esboça (a partir dos 18 meses) uma reaproximação à mãe. Nesta 3ª sub-fase (reaproximação) a criança apresenta: • uma preocupação renovada com o paradeiro materno • uma necessidade crescente de compartilhar com a mãe as suas habilidades e experiências • uma grande necessidade de ter o amor do objecto • um momento de expansão das suas relações com outras pessoas • um apelo à disponibilidade física e relacional da figura materna para estar presente sem ser intrusiva e parece reactivar na mãe e na criança medos e angustias de perda de amor.
Quando a relação sofreu perturbações podem ocorrer: • tentativas de cristalização do desenvolvimento • uma excessiva precocidade nas aquisições que podem fazer perigar o desenvolvimento harmonioso da criança. Se a distância ideal for conseguida podemos observar uma crescente individuação que permite: - um desenvolvimento acentuado da linguagem, uma internalização das regras e exigências (início do superego) - habilidade crescente para expressar desejos e fantasias através do jogo simbólico. A 4ª sub-fase - atingir uma individualidade definida - obter um certo grau de constância do objecto emocional. A constância objectal: ”O último estágio no desenvolvimento de uma relação de afecto madura (…). No estado de constância objectal o objecto de amor não será rejeitado ou trocado por outro caso não proporcionar satisfação“. Para atingir este estádio: • confiança e segurança através da ocorrência de alívio da tensão na fase simbiótica • aquisição da individualidade tem como base uma internalização de uma mãe seguritante que permita a exploração e descoberta do mundo envolvente a partir do qual se constrói uma identidade do self que o diferencia de todos os outros indivíduos. Acontece por volta dos 3 anos.