SEXO NO BDSM
Quando o Mestre me ordenou que eu fizesse um trabalho sobre esse tema, confesso ter ficado um pouco apreensiva... Pouquíssimas pessoas falam sobre isso e, quando o fazem, quase nunca tomam uma posição definitiva, como se fosse um tabu.
Como aceitar o termo “tabu” para pessoas como nós?
Justamente por sermos pessoas diferenciadas, corajosas em assumir posições, vivendo suas fantasias sem nenhum receio, este deveria ser um assunto mais do que definido entre todos.
Mas não.
Na hora “agá” as palavras parecem sumir e um mistério paira em todos os olhares.
Oras... Não serei eu mais uma a engrossar a fila dos indecisos e, independente da opinião do leitor, tentarei ser clara com aquilo em que acredito. Sem usar bibliografias (pois o material que temos é escasso), baseada em vivência real e convivência com a mais alta elite do BDSM brasileiro, atrevo-me a dizer o que penso a respeito.
Sexo... Permitido ou não?
Viemos de uma linhagem libertina. Marquês de Sade que o diga... Se temos uma vertente dentro do BDSM que engloba a libertinagem, onde estará a proibição para a prática do sexo? Sexo, muito sexo. Em todas as suas variantes.
Isto também é ser SM !
Muitos se esquivam do assunto alegando que o ato sexual enfraquece quem domina, pois vem acompanhado de entrega. Dependendo de como o ato é feito nada será mais prazeroso para uma escrava do que ter a possibilidade de ver ou sentir o gozo daquele que o Domina. Isso lhe parecerá mais uma retribuição ao seu esforço na entrega do que uma fraqueza. Fraco será o escravo que não conseguir provocar, através de sua submissão, o gozo do Dominador.
Ser possuída, da forma que agradar ao Dono, é grande recompensa para a escrava e acredito que só mesmo os bons escravos são merecedores disto. Sendo assim, o Dono que não quer ter nenhum contato sexual com a escrava, talvez não a considere pronta ou capaz para receber tal distinção. Tal fato não desmerece nem um nem outro. Pode simplesmente fazer parte de um treinamento onde o sexo ficaria fora do contexto. Afinal, a privação do ato sexual é um castigo bem merecido em muitos casos. E quanto mais proibido for, mais o escravo se tornará entregue até poder merecer tal prêmio. Faz parte do jogo.
Mas a que sexo me refiro? Ao tradicional papai e mamãe, heterossexual? Não. Eu me refiro a qualquer prática sexual que leve ao êxtase, ao gozo pleno, ao liberar dos fluídos..., onde exista o contato íntimo corporal. Existe muito sexo dentro de um relacionamento BDSM. Sexo com introdução de consolos ou plugs, fisting, oral (escrava com Mestre e escrava/o com Rainha). Mas existem alguns preconceitos em relação ao sexo oral Mestre/Rainha com escravo/a e sexo com penetração em ambos os casos. Interessante observar que em cenas públicas ou play partie, dificilmente estas manifestações sexuais ocorrem. E fico a me questionar por que. Afinal somos extremamente eróticos, fogosos e com uma chama sexual diferente dos chamados “normais”. E justamente nós, na hora do sexo parecido com o baunilha nos sentimos tolhidos e não fazemos. Ou se fazemos não contamos. Como se fosse um pecado mortal... Talvez tenhamos registrado em nossos arquivos a culpa original do casal colonizador da Humanidade, onde o sexo tradicional os expulsou do Paraíso. E acabamos condenando aqueles que o fazem. Que loucura! De linha libertina e cheios de preconceitos. Um verdadeiro contra-senso!
Sexo baunilha todo mundo conhece. Apimentar um pouco mais, alguns conhecem como. Mas fazer deste ato, algo que eleve o Dominador e humilhe o escravo, ao mesmo tempo em que o distingue dos demais, é uma arte para poucos. Ter o escravo a consciência de que está sendo agraciado por Alguém capaz de conduzi-lo aos mais amplos estágios do prazer, é algo que só o SM pode oferecer. Gozar todo SM goza. Isso é incontestável. Dono e peça dificilmente saem de uma sessão sem experimentar o gozo. Seja através da manipulação com as mãos do sexo, introdução de “brinquedinhos” ou, em raros casos, através do prazer pela dor. Mas quando é que a relação sexual entra nisso? O sexo está nisso tudo! O erotismo e a sensualidade presentes em cada ato SM, são verdadeira fonte de prazer e êxtase.
O sexo com penetração, ato sexual “tradicional” ocorrerá se o Mestre desejar, sem que isso O diminua ou demonstre fraqueza. Ao Mestre cabe qualquer decisão neste sentido. E um Mestre sábio e experiente sabe exatamente à hora em que isto poderá ocorrer. Um Mestre masturbar-se perante uma escrava não é algo deplorável. Oras... deplorável é aquele que se diz adepto e pensa dessa maneira. O Mestre pode manipular seu membro como e quando quiser. E pode ejacular onde e da maneira que quiser sobre o corpo da escrava. Afinal é o Mestre quem comanda e se Ele assim o desejar, assim será! Uma escrava pode fazer sexo oral com seu Dono. Se o seu Dono quiser, não só pode como deve. E há de se “profissionalizar” nesta arte de forma a provocar um gozo longo e inesquecível ao Dono. E o Dono? Pode fazer sexo oral com a escrava? Se o Dono gostar desta prática... por que não? Se adicionar ao ato a introdução dos dedos já pode começar a prepará-la para um futuro fisting. Mordidas bem doloridas no momento do gozo da escrava não lhe parecem com o SM? Sexo vaginal ou anal? Vaginal, anal, onde o Dono quiser. Em qualquer das modalidades é necessário o uso de preservativos sempre. A expressão: “ela é limpinha”, deve ser abolida. Ninguém é" limpinho" em um relacionamento onde se podem ter vários parceiros. Cuidado é mais do que necessário. Um Dom que força uma relação sem preservativo, em minha opinião, deveria ser exposto ao meio e banido dele. Sexo vaginal parece coisa de baunilha. E é. Mas também é coisa nossa. Coisa de libertinos.
E não é isso o que somos? Imagine um sexo parecido com a baunilha e, no momento do gozo da escrava, o Mestre pára. É horrível cortar o gozo na hora em que ele está para acontecer. Uma maldade. Bem SM... rs... Pense no sexo vaginal em todas as posições possíveis. Provavelmente cairá para o sexo baunilha apimentado. E por que não? A nós, TUDO é permitido! E quanto ao sexo anal? Eu poderia dizer que é o preferido dos Mestres. Ele precisa ser explorado. Lubrificantes próprios são recomendados. É claro que o Mestre não precisa ficar fazendo tudo para a escrava. Quando o Mestre desejar ter relação anal, bastará uma ordem e a escrava já vai se preparando ando o lubrificante e garantindo uma segurança maior durante o ato. Se a escrava não for cuidadosa, pior prá ela... rs...
Em sessões com mais escravos à disposição, sejam eles do sexo que for sob o comando do Mestre e/ou Rainha, poderá haver relações de todos os tipos. Entre os escravos, entre os Mestres, sem preferência para tendências homo ou heterossexuais. E sem condenações.
Lembre-se: tudo é permitido quando o Mestre permitir. Sexo é permitido. Troca de parceiros também. Não como em um swing onde troca-se apenas para transar. Em nosso caso a troca oferece muito mais!!! Isso é libertinagem. Isso é SM.
E quanto ao “não sexo”? Toda escrava espera o que toda mulher deseja do ser amado: uma boa transa. Mas acontece que não estou falando de mulher e muito menos do belo príncipe em seu cavalo branco. Estou me referindo ao tratamento Mestre e escrava. Onde uma escrava pode esperar o que quiser e só terá o que o Mestre desejar que tenha. Com certeza ela amará o seu Dono, mas em um sentido diferente do amor baunilha. Ela venera, adora e respeita o Mestre. Justamente por esperar tanto uma boa relação sexual, talvez ela nunca consiga isso.
O inesperado é um grande tempero para o SM...
Eu particularmente acho o "não sexo" tão excitante quanto à relação sexual total. Cheguei inclusive a escrever uma poesia a respeito, em meus primeiros os dentro deste mundo, onde dizia que a "não posse física" do Mestre, era a maneira mais completa de me possuir... Se o Mestre não quiser ter relação com penetração com a escrava, devemos aceitar com muito respeito. Cada um sabe a peça que tem nas mãos...
Sexo e Liturgia: Há momento para tudo. Durante toda a liturgia seria aconselhável não utilizar a prática sexual. São rituais que envolvem Mestre e escrava para que, se for vontade do Mestre, a sessão evolua até um contato íntimo mais profundo. Comparando com o mundo baunilha, veja todo o ritual que é feito antes de um homem levar uma mulher para a cama (ou vice-versa, afinal os tempos mudaram... rs...). Ambos sabem qual será o final de tantos gestos, conversas e carinhos. Mas se esmeram no jogo da sedução. Nós também precisamos de todo um ritual para entrar no que chamamos de "clima". Mas se, em algum momento deste ritual o Mestre achar conveniente pular etapas e partir logo para o final, que seja feita a Sua vontade!
Sob o domínio do Mestre, o sexo, da maneira como for conduzido, não tem nada de condenável, desde que siga a tríade do saudável, seguro e consensual.
Preferência do Mestre. Momento certo. Um jogo.
Os Dominadores mandam e nós obedecemos! Sempre! Com ou sem libertinagem. Na vivência plena do BDSM!
Trabalho realizado sob ordens do Mestre T:V:P: Janeiro 2007 Quinto Grau carolina (T:V:P:)