Declaração De Independência Do Haiti - 1804 2647i

Texto Original da Declaração de Independência do Haiti (1804)

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LIBERDADE OU MORTE Exército Nativo Hoje, 1º. de Janeiro de 1804, o Comandante-em-chefe do Exército Nativo e os Generais do Exército reuniram-se com o objetivo de tomar medidas que deverão assegurar a felicidade do país. Assim que o Comandante-em-Chefe relatou suas verdadeiras intenções aos Generais em Assembléia, que era a de assegurar permanentemente um governo estável para os nativos do Haiti, objeto de sua grande preocupação, concluíram um discurso no qual declaram às Potências Estrangeiras a decisão de tornar o país independente e gozar de uma liberdade consagrada pelo sangue das pessoas desta ilha; tendo obtido o parecer, pediu para que cada um dos generais em Assembléia fizesse um voto de renúncia perpétua para com a França, morrer em vez de viver sob sua dominação e lutar pela independência até o último suspiro. Os generais profundamente compenetrados por esses princípios sagrados, depois de terem declarado unanimemente sua adesão ao projeto de independência, juraram todos à posteridade, ao universo, de fazer votos de renúncia perpétua para com a França, morrer em vez de viver sob sua dominação. Realizado em Gonaïves1, neste 1º. de Janeiro de 1804 e o primeiro dia de independência do Haiti. Assinado: Dessalines, Gerneral-em-Chefe; Christophe, Pétion, Clervaux, Geffrard, Vernet, Gabart, General de Divisão; P. Romain, E. Gerin, F. Capoix, Daut, Jean-Louis-François, Ferou, Cangé, L. Bazelais, Magloire Ambroise, J. Jaques, Herne, Toussaint Brave, Yayou, General de Brigada; Bonnet, F. Papalier, Morelly, Chevalier, Marion, Generais Auxiliares; Magny, Roux, Chefes de Brigada; Chareron, B. Loret,

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O texto original foi encontrado casualmente, no início de 2010, por uma aluna pós-graduanda de História pela Universidade de Duke no National Archives, Inglaterra. Tradução: Renato Araújo, 2010. http://www.nationalarchives.gov.uk/dol/images/examples/haiti/0003.pdf ada em Agosto /2010. 1 Gonaïves (Gonayiv em crioulo) é uma cidade costeira ao norte do país.

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Quené, Makajoux, Dupuy, Carbonne, Diaquoi aîné, Raphaël, Malet, Derenoncourt, Oficiais do Exército, e Boisrond Tonnerre, Secretário.

O Comandante-em-Chefe, Ao Povo do Haiti. Cidadãos, Não fora suficiente expulsar de vosso país os bárbaros que ensangüentaram esta terra por dois séculos; não fora suficiente ter restringido as facções sempre recorrentes que estavam brincando de afastar a sombra de liberdade que a França expôs aos vossos olhos; é necessário, por um último ato de autoridade nacional, assegurar perpetuamente o império da liberdade no país que nos viu nascer; é necessário constranger o governo inumano que leva há tempos o torpor mais humilhante aos nossos espíritos, todos esperam nos subjugar novamente; é preciso, enfim, viver independente ou morrer. INDEPENDÊNCIA OU MORTE! 2 Que estas palavras sagradas nos unam e que sejam o sinal de combate e de nossa união. Cidadãos, meus compatriotas, neste dia solene, reuni eu próprio corajosos militares que, na urgência de recolher os últimos suspiros de liberdade, derramaram seu próprio sangue para salvá-la; estes generais que guiaram vossos esforços contra a tirania não fizeram nada ainda por vossa felicidade... O nome francês ainda assombra nossa terra. Todos têm narrado a memória das crueldades deste povo bárbaro; nossas leis, nossos costumes, nossas cidades, ainda carregam o estigma francês. Realmente, ainda há algo de França em nossa ilha; e credes vós livres e independentes desta República que em verdade combateu todas as nações, mas jamais derrotou aqueles que exigiram ser livres. 2

É pouco provável que D. Pedro tenha dado o “Grito do Ipiranga” (1822) como um marco para Independência do Brasil, pelo menos não da maneira como tem sido divulgado nos manuais escolares do país. Por outro lado, (atestado por este documento bicentenário) é certo que os líderes revolucionários haitianos já demonstravam suas influências nacionalistas; ideais herdados da Revolução sa (1789) e Americana (1776). Assim, 18 anos antes do suposto “Grito do Ipiranga”, Dessalines bradou com convicção o seu “Grito de Gonaïves” utilizando-se do próprio modelo revolucionário “Liberté, Egalité, Fratenité ou la Mort” - sinteticamente, é a Revolução contra a “revolução”. N. do T.

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E a quantas! Vítimas de nossas próprias ingenuidades e nossa indulgência ao longo de catorze anos; vencidos, não pelo exército francês, mas pelas trapaceiras proclamações eloqüentes de seus agentes; quando nos cansaremos de respirar o mesmo ar que o deles? O que temos nós em comum com esses carrascos? Sua crueldade comparada à nossa paciente moderação, sua cor à nossa, a extensão dos mares que nos separam; nossa disposição vingativa diz-nos o suficiente: que eles não são nossos irmãos e que não se tornarão jamais e que, se eles encontrarem refúgio entre nós, eles novamente maquinarão nossa desordem e nossa divisão. Cidadãos nativos, homens, mulheres, jovens e crianças, mantenham vossos olhos por todas as partes desta ilha; olhai o futuro, por vossas esposas, vossos maridos, vossos irmãos e irmãs; como disse, olhai vossas crianças, vossas crianças de colo. Que será delas...? Causa-me estremecimento só em dizer... A rapina desses abutres! Em vez destas vítimas convenientes, que vossos olhos consternados percebam só os assassinos deles; esses tigres ainda regurgitam seu sangue, [animais] cuja presença abominável censura vossa insensibilidade e vossa culpa na lentidão em vingá-los. Que esperais vós para apaziguar os espíritos dos mortos? Lembrai-vos que queríeis que vossos restos mortais descansassem com os de vossos pais quando lutastes contra a tirania? Descereis acaso a vossos túmulos sem lhes ter vingado? Não, aqueles ossos recusar-vos-iam. E vós, homens preciosos, intrépidos generais que, insensíveis aos vossos próprios infortúnios, ressuscitaram a liberdade dando todo vosso sangue; tendes certeza de que não fizestes nada se não derdes às nações um exemplo terrível, mas justo, da vingança forjada por um povo orgulhoso de ter recuperado sua liberdade e que ainda possua o zelo de mantê-la; aterrorizemos todos os que ousarem ainda tentar nos violentar: a começar pelos ses... Que eles tremam ao beirar nossas Costas, se não pela lembrança das crueldades que tenham realizado pelo menos pela terrível resolução que tomamos de entregar à morte a qualquer um nascido francês que profanar o solo da terra da liberdade. Nós ousamos ser livres, sejamos, pois, para nós mesmos e por nós mesmos. Imitemos a criança em crescimento: seu próprio peso rompe as fronteiras que se tornam obstáculos para se erguer. Que povo combateu por nós? Que povo quer colher os frutos de nosso próprio trabalho? E que absurdo desonroso vencer para ser escravo. Escravos?... Deixemos aos ses este epíteto qualificativo. Eles conquistaram, mas deixaram de ser livres.

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Vamos dar outro o, imitemos aqueles que, levando suas solicitudes ao futuro e temendo deixar para a posteridade o exemplo da covardia, preferem ser exterminados que perderem seu nome da lista dos povos livres. Asseguremos-nos, entretanto, de que o espírito de proselitismo não destrua nosso trabalho. Deixemos respirar em paz nossos vizinhos, que eles vivam quietamente sob a égide das leis que eles fizeram pra si próprios. E não sejamos nós, incendiários revolucionários, os que a si mesmos erigirão os títulos de legisladores das Antilhas, que nossa glória não consista em perturbar as ilhas que nos avizinham; eles não são como aqueles com quem habitamos, não se regam no sangue inocente de seus habitantes. Eles não têm nenhuma vingança a exercer contra a autoridade que lhes protege. Afortunados de não ter jamais conhecido os ideais que nos destruíram, eles podem somente ter bons votos por nossa prosperidade. Paz aos nossos vizinhos, mas anátema ao nome francês, ódio eterno à França: eis o nosso grito. Nativos do Haiti! Meu feliz destino foi ser um dia a sentinela cujo dever foi velar a guarda do ídolo para o qual sacrificai. Eu tenho vigiado, às vezes lutado sozinho e se eu tenho sido afortunado de remeter a vossas mãos a sagrada confiança a mim depositada, sabei que agora é vossa tarefa preservá-la.

Ao combater por vossa

liberdade, eu lutei por minha própria felicidade. Antes da consolidação das leis que garantirão vossa liberdade individual, seus líderes, com quem me reúno aqui, e eu, devemos a vós a prova final da nossa devoção. Generais e vós, chefes, aproximem-se de mim para o bem de nosso país, o dia chegou, este dia que deve eternizar nossa glória, nossa independência. Se acaso existir entre nós um coração morno, que se afaste e tema pronunciar o juramento que deve nos unir. Juramos ao universo inteiro, à posteridade, à nós mesmo, renunciar perpetuamente à França e de morrer antes que viver sob sua dominação. De combater até o último suspiro pela independência de nosso país. E vós, um povo há tanto desafortunado, testemunha do juramente que fizemos, lembrai que eu contei com vossa tenacidade e coragem quando eu me atirei na carreira da liberdade para combater o despotismo e a tirania contra os quais lutei por catorze anos. Lembrai-vos que eu sacrifiquei tudo para partir em vossa defesa; família, crianças e fortuna e agora eu só sou rico em vossa liberdade. Meu nome se tornou um horror para todos aqueles que querem a escravidão. E que déspotas e tiranos amaldiçoem o dia 4

que me viu nascer; e se acaso recusardes ou resmungardes enquanto receberem tais leis que o espírito guarde vosso destino ditado a mim para o seu próprio bem, merecereis o destino de um povo ingrato. Mas longe de mim esta idéia terrível. Vós sustentareis a liberdade que apoiaram e compartilharam com os líderes que vos comanda. Por isso votam diante de mim para viverem livres e independentes e para preferir a morte a qualquer um que tentar colocar-lhes de volta os grilhões. Juro, finalmente, perseguir continuamente os traidores e inimigos de vossa independência. Realizado no Quartel General de Gonaïves, no primeiro de Janeiro de Mil Oitocentos e Quatro, o ano primeiro da Independência. Assinado: J. J. Dessalines.

Em Nome do Povo do Haiti Nós, Generais e Chefes do Exército da Ilha do Haiti, estamos compenetrados com o reconhecimento das bênçãos que temos experimentado da parte do Comandanteem-Chefe Jean-Jacques Dessalines, o protetor da liberdade desfrutado pelo povo. Em nome da liberdade, em nome do povo que ele fez feliz, nós o declaramos Governador-Geral. Pela vida do Haiti, juramos obedecer cegamente às leis emanadas de sua autoridade, a única que nós reconhecemos: damos-lhe o direito à paz, à guerra e a nomear seu sucessor. Realizado no Quartel-General de Gonaïves, neste 1º. De Janeiro de 1804, e o primeiro dia da Independência. Assinado: Gabart, P. Romain, J. Herne, Capoix, Christophe, Geffrard, E. Gerin, Vernet, Pétion, Clervaux, Jean-Louis-François, Cangé, Ferou, Yayou, Toussaint Brave, Magloire Ambroise, Louis Bazelais. Em Porto-Príncipe, da imprensa GOVERNAMENTAL.

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