O Blog Da Bel 4z5xw

O BLOG DA BEL

Desde pequena eu adorava escrever no meu diário. Mas depois que criei o Blog da Bel eu abandonei esse hábito. o horas escrevendo, quero dizer, postando, sobre todas as coisas interessantes que acontecem no meu dia a dia, mas o que eu gosto mesmo é quando os amigos participam, deixando seus comentários.

Aos poucos, o endereço do meu blog foi se tornando conhecido, mas a minha maior surpresa foi constatar que até a professora Sandra também sabia da existência do blog.

Certo dia, na classe, durante a aula ela me perguntou:

– Isabel, eu soube que você criou um blog, como surgiu essa ideia?

No momento em que eu respondia, Larissa, minha colega de turma, interrompeu nossa conversa gritando do meio da sala de aula:

– Isabel, ninguém aguenta mais ler as bobagens que você escreve!

Todos deram risada, ninguém me defendeu. Nem mesmo Maísa, minha melhor

amiga. Naquele instante tomei uma decisão: vou deletar, hoje mesmo, o blog da Bel.

Ainda bem que a aula já estava terminando, pois não conseguia mais disfarçar minha irritação. Assim que bateu o sinal, saí depressa da sala e meus amigos vieram atrás chamando para que eu os esperasse. Segui em frente fingindo que não era comigo, pois não queria que percebessem que estava chateada.

Quando cheguei em casa, minha mãe veio me receber com uma caixinha na mão:

– Isabel, veja o que chegou pelo correio para você.

Curiosa, abri o pacote ali mesmo. Dentro de uma caixa, embrulhado em um papel de seda estava um brinco antigo, apenas um. Achei estranho alguém me enviar aquele objeto e olhei novamente o interior da caixa, procurando alguma explicação. Dentro encontrei um pedaço de papel dobrado onde estava escrito:

Estava longe, absorta, divagando sobre o significado daquela charada quando fui trazida de volta à realidade.

– Venha Isabel, o almoço já está servido – chamou mamãe.

Quando me sentei à mesa minha mãe perguntou:

– O que tinha naquele pacote?

Para evitar que ela ficasse preocupada, despistei:

– Era só uma brincadeira dos meus amigos.

Quase não consegui comer direito, aquela proposta me deixou confusa. Por mais que tentasse entender o motivo daquele desafio, não conseguia encontrar nenhuma explicação. E se fosse realmente uma brincadeira? Achei melhor não arriscar.

Depois do almoço, fui direto para o meu quarto. Não queria esperar mais nenhum minuto para acabar com o blog. Liguei o computador para digitar a última mensagem, mas por mais que eu tentasse não conseguia me concentrar. O que estava escrito naquele bilhete dominava meus pensamentos. Foi aí que tive uma ideia: usar aquele espaço para contar a história do brinco e pedir a opinião dos meus colegas sobre o que fazer.

Não demorou muito para a mamãe novamente me chamar:

– Isabel, agora venha me ajudar!

– Espere só mais um pouquinho, mamãe, estou quase terminando.

– Mas não demore. Eu já estou indo trabalhar.

Só no final da tarde pude ar novamente o endereço para conferir os comentários deixados pelos visitantes. Ao contrário do que a Larissa falou, várias pessoas tinham se interessado pela minha história. Todas enviaram mensagens me incentivando a procurar a dona do brinco. Entre elas havia uma de minha amiga Maísa, que dizia:

\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\ <<28 pessoas comentaram! >>

[ M@ísa14 ] : 28 de abril de 2011 19:25

Consegui resolver a charada: o seu primeiro destino é a Quinta da Boa Vista.

Fiquei em dúvida se deveria ir até naquele lugar sozinha. Achei meio arriscado, mas a curiosidade era mais forte e decidi aceitar o desafio. Postei no blog os meus próximos os, na esperança que alguém viesse ao meu encontro.

No dia seguinte, depois da aula, fui direto à Quinta da Boa Vista. Para minha surpresa estavam lá meus melhores amigos, Felipe e Maísa. Eles vieram preparados para a missão de desvendar o enigma do brinco. Felipe trouxe sua máquina fotográfica e Maísa, que era uma exímia digitadora, levou seu notebook.

– O que vocês estão fazendo aqui? – Perguntei.

– Não poderíamos deixar você tentar resolver sozinha este desafio – respondeu Felipe.

– Além disso, adoramos um mistério – disse Maísa.

– Que bom que vocês vieram – falei aliviada.

– Por onde devemos começar? – Perguntou Maísa, meio impaciente.

– Primeiro temos que encontrar a pessoa que irá nos contar a história.

– Mas quem será esta pessoa? – indagou Felipe.

– Eu também não sei – respondi.

– Mas como? No bilhete não tinha nenhuma indicação?

– Felipe, eu já te contei tudo o que estava escrito no bilhete.

Sem saber direito o que fazer, começamos a andar de um lado para outro, tentando encontrar a tal pessoa. Depois de termos procurado por toda parte sem nenhum sucesso, comecei a imaginar que aquela história poderia ser uma pegadinha.

– Será que isto não é uma armação da Larissa? – perguntei.

– O que ela iria ganhar com isso? – ponderou Maísa.

– Sei lá, do jeito que ela é competitiva, iria adorar me fazer de boba – respondi.

Felipe estava longe naquele momento, procurando os melhores ângulos para fotografar o museu. Depois de fazer alguns testes, voltou para junto de nós dizendo entusiasmado:

– Vamos documentar tudo para não dizerem que estamos inventando esta

história.

– E eu, vou escrever diretamente no Blog da Bel, tudo que a tal pessoa nos contar – explicou Maísa –, assim não corremos o risco de perder nenhum detalhe.

– Eu tenho certeza que o Blog da Bel fará o maior sucesso com esta história, previu Felipe.

– Quero só ver a cara da Larissa – completou Maísa.

– Maísa, não vamos perder mais tempo com a Larissa – falei irritada.

– Mas foi você que começou a falar dela novamente! – reclamou.

– É verdade, mas agora já chega.

– Está bem – concordou ela.

O tempo estava ando e ainda não tínhamos avançado na nossa busca. Começamos, então, a ficar ansiosos.

– Olha pessoal, já faz meia hora que estamos aqui e ninguém apareceu. Estou

cansado de ficar que nem bobo procurando por alguém que eu não sei quem é – argumentou Felipe.

– E o que você acha que devemos fazer? – perguntou Maísa.

– Primeiro precisamos definir se vale a pena participar desse desafio – falou Felipe.

– Pensando bem, eu acho melhor nós desistirmos – concordei.

– Eu também acho, mas deveríamos esperar mais um pouquinho para ver se alguém aparece – sugeriu Maísa.

Enquanto discutíamos esta possibilidade, um senhor, bastante idoso, foi se aproximando como se quisesse falar alguma coisa. Eu tive a impressão que já o conhecia, vestia-se de forma antiquada, mas elegante: calça com suspensório e camisa social com gravata de borboleta, lembrava muito meu tio Chiquinho, até o seu jeito de andar parecia igual. – Deve ser ele – falamos ao mesmo tempo.

Meio sem jeito me aproximei. Puxei assunto para ver se era a pessoa que esperávamos.

– Meu nome é Isabel, o senhor tem alguma mensagem para mim?

O homem me olhou confuso e perguntou.

– Como?

Percebi que ele não ouvia direito e resolvi falar mais alto.

– O senhor tem alguma história para me contar?

Ah! Entendi! Você quer que eu lhe conte uma história!

– Não…

Ele nem esperou eu concluir meu pensamento e perguntou:

– Qual história você gostaria de ouvir?

Respirei fundo e tentei explicar que eu não estava interessada em nenhuma história da carochinha. Mas foi inútil. Era realmente difícil para aquele velhinho simpático, porém quase surdo, entender o que eu estava lhe perguntando.

– Qual história você gostaria de ouvir? – Ele insistiu na pergunta.

Para colocar um ponto final naquela conversa falei pausadamente.

– Desculpe, eu confundi o senhor com outra pessoa.

– Como? – Ele perguntou novamente.

– Foi um engano! – quase gritei.

–Foi um engano… – repetiu o velhinho como tivesse tentando se lembrar de alguma coisa.

Depois de algum tempo ele concluiu:

– Eu nunca ouvi falar nessa história antes.

– Eu desisto – falei baixinho e me despedi daquele senhor sem dar mais nenhuma explicação.

Fui em direção dos meus amigos determinada a acabar com aquela brincadeira.

– Para mim chega, isto já foi longe demais – disse, já um tanto aborrecida.

– Não fique nervosinha – falou Felipe só para me provocar.

Maísa, percebendo que eu estava a ponto de explodir, desviou o assunto e sugeriu:

– Bel, já que estamos aqui, vamos fazer só mais uma tentativa.

– Está bem, mas agora é a vez de vocês irem falar com as pessoas – completei.

– Eu sou muito tímida. Acho melhor o Felipe que é mais extrovertido.

– De jeito nenhum. Eu não tenho a menor vocação para detetive – respondeu ele, secamente.

Nessa altura dos acontecimentos eu já estava de mau humor e sem perceber comecei a morder o lábio superior até machucar. Foi então que eu me dei conta que estava fazendo papel de idiota, procurando uma pessoa que eu nem sabia se era homem ou mulher, velho (a) ou moço(a), para me dar informações sobre um brinco

– Já que ninguém quer colaborar, vamos embora – falei decidida.

Quando estávamos quase chegando na rua, uma pessoa me chamou.

– Isabel, Isabel! – ela gritava.

Olhei para trás e vi uma garota loira, de aproximadamente quatorze anos, vestida como uma princesinha.

Olhamo-nos e Felipe comentou baixinho:

– De onde surgiu essa figura?

– Será que ela vai para alguma festa à fantasia? – riu Maísa.

– Vocês dois fiquem quietos – disse, aborrecida com os comentários.

A garota se aproximou e, sem se apresentar, foi logo contando uma história. Maísa também não perdeu tempo, pegou seu notebook e foi postando diretamente no blog tudo que ouvia:

29 de abril de 2011

Por que ela está vertida assim?

Sobre mim

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Era uma vez uma menina, nascida de uma família muito importante e que morava num palácio. Ela tinha um irmão mais velho e uma irmã mais nova que era também sua melhor amiga. Com a morte precoce de seu irmão ela foi escolhida para ser a sucessora de seu pai.

Naquela época, a maioria das mulheres no Brasil não sabia ler nem escrever. No entanto, o pai das meninas estava determinado a dar para as filhas uma educação esmerada.

E assim, contratou os melhores professores do País, para que elaborassem um rigoroso programa de estudo. Mandou, também, vir da Europa uma preceptora, a Condessa de Barral, uma mulher culta e politicamente engajada que frequentava os meios intelectuais no exterior, que ou a dar aulas para as meninas no próprio palácio da família. Por conta disso, elas tiveram uma infância diferente das crianças daquele tempo. Tinham muitas aulas e compromissos.

Uma das obrigações da filha herdeira era acompanhar o pai nas cerimônias e nos atos públicos. Com isso ele queria provar para a população que ela estava sendo preparada para assumir o lugar dele. Durante a maior parte do dia as meninas estudavam e sobrava–lhes pouquíssimo tempo para se divertirem. Nas horas de folga aproveitavam para brincar e representar junto com os amigos de infância pequenas peças teatrais em que elas desempenhavam os principais papéis. As irmãs costumavam também observar, de sua casa no alto da colina, o movimento das embarcações na Baía da Guanabara. No verão a família ava longas temporadas no palácio de verão em Petrópolis. Lá as meninas tinham mais liberdade, podiam ear, andar a cavalo e ter contato com a natureza.

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Neste ponto, a narrativa foi interrompida e a garota, da mesma forma que chegou, foi embora sem dizer mais nada.

– Hei!, espere um pouco – gritou Felipe, na tentativa de detê-la.

– E agora, o que devo fazer? – Falei alto, na esperança que ela conseguisse me ouvir.

Qual o quê? – Ela nem deu bola para nossos apelos e continuou seu caminho sem olhar para trás.

– Vamos atrás dela – sugeriu Felipe.

Tentamos seguir a garota por uma rua movimentada, com muitos pedestres transitando na calçada. Apesar do nosso esforço para alcançá-la, nós a perdemos de vista no meio da multidão. Parece que ela tinha evaporado no ar.

Com fome e cansados, paramos numa lanchonete para comer alguma coisa e pôr

em ordem nossas ideias.

– Vocês entenderam alguma coisa? – indaguei.

– Não entendi nada e nem descobri a palavra-chave – falou Maísa.

– Nem eu, mas olhem aqui – falou Felipe, mostrando as imagens na câmara digital – consegui tirar algumas fotos da garota.

– E eu anotei tudo – Maísa falou mostrando o texto que escreveu no notebook

– Ótima ideia, assim não perdemos uma só palavra da história.

Imediatamente fomos para minha casa para lermos calmamente o que a garota falou. Apesar de termos lido o texto várias vezes, não conseguimos descobrir a senha.

Como fiz da outra vez, pedi para que meus amigos me ajudassem a descobrir alguma pista do nosso próximo destino.

Nessa altura, o Blog da Bel tinha duplicado o número de os. Além dos nossos amigos, colegas e familiares, outros internautas também leram nossa história. No início houve uma enxurrada de comentários, quase uma disputa para ver quem conseguia decifrar por primeiro o enigma. ados alguns dias, as

mensagens foram ficando escassas. Diante da dificuldade de achar uma solução para o desafio, todos desistiram, até meus amigos, que já nem tocavam mais no assunto.

Não me conformei com a situação. Todo o esforço para descobrirmos a dona do brinco não poderia ter sido em vão. E assim, ei a ler diariamente a história na esperança de conseguir resolver o enigma. Foi então que a professora Sandra, percebendo a minha frustração, veio em meu auxílio.

Com o texto do blog, impresso, na mão sugeriu:

– Isabel, vamos ler juntas a história para tentarmos descobrir as palavras-chave.

– Professora, eu já fiz isto milhares de vezes – respondi.

– Então grife as palavras da narrativa que indicam algum lugar – disse ela.

Seguindo sua orientação, escolhi as palavras: palácio, baía, Petrópolis e Guanabara. Nesse instante as coisas ficaram claras para mim.

Dei um beijo de agradecimento na professora e saí correndo para contar a novidade aos meus amigos.

– Consegui decifrar o enigma – contei.

– Qual é a senha? – perguntaram, simultaneamente, Felipe e Maísa.

Aproveitei o momento para demonstrar que estava aborrecida com eles.

– Vocês me abandonaram. A única que me deu força para continuar a investigação foi a professora Sandra – reclamei.

– Desculpe Isabel, mas nós não sabíamos como ajudar você – respondeu Maísa.

– É verdade – reconheci.

O Felipe nem se sensibilizou com minha queixa. Só estava interessado no local do nosso próximo destino.

– Fale logo, Isabel – disse ansioso.

– Como você é grosseiro, Felipe!

– Isabelzinha, por favor, diga-me qual será o nosso próximo destino – zombou.

Fingi que não notei o tom irônico do seu pedido.

– Palácio Guanabara – respondi orgulhosa.

– Agora só está faltando mais um desafio – lembrou Maísa.

– É verdade, suspirei aliviada, estamos quase descobrindo quem é a dona do brinco.

Felipe ficou quieto, no fundo ele não se conformava de ser o único, de nós três, que não tinha decifrado nenhum dos enigmas.

No mesmo instante fomos para casa indicar qual seria o nosso próximo destino e marcar o nosso encontro para as 14 horas do dia seguinte, na frente do Palácio.

Noutro dia, Felipe e eu chegamos ao local um pouco antes do horário e lá encontramos dez colegas, todos ansiosos para desvendar o mistério. Enquanto esperávamos a Maísa chegar, aproveitamos para conhecer o jardim do Palácio Guanabara.

O jardim de inverno é cópia fiel, em tamanho reduzido, do Palácio de Versailles, na França. Uma das atrações do jardim é um lago em forma octogonal com um grande chafariz e suas estátuas de bronze

– Nem parece que estamos no centro do Rio de Janeiro – comentei.

– Como é lindo este lugar! Cheio de palmeiras e árvores frutíferas – disse Sueli, a aluna mais ecológica da classe.

– Olhe a quantidade de pássaros que tem aqui – continuou ela.

– E tem até uns tucanos – completei.

– Estou vendo também rolinhas, bem-te-vis, periquitos e maritacas, completou Miguel, que conhecia tudo sobre pássaros e costumava reunir os amigos e as amigas em sua chácara para observar as diferentes espécies de aves.

Felipe olhou para cima de uma árvore e apontou:

– Vejam aqueles micos.

Sentamos nos bancos de madeira e ficamos por um bom tempo observando os macaquinhos pulando de um galho para outro, brincando, sem se importarem com a nossa presença.

Um senhor ou por ali e puxei assunto. Descobri que se chamava Ulisses e trabalhava como jardineiro sendo, também, responsável pela alimentação dos macacos.

Ele, todo orgulhoso, nos explicou:

– Todo dia, quando eu chego aqui no palácio, a primeira coisa que eu faço é dar banana para os micos. Se eu demoro um pouco eles entram na minha sala e ficam me olhando como se tivessem me cobrando para dar-lhes comida.

– Eles só comem banana, perguntei?

– Além de bananas eles comem carambola e manga.

Logo em seguida aparece Maísa, afobada.

– Vamos, a visita ao palácio já vai começar.

– Vamos, responderam todos.

Enquanto caminhávamos comentei com meus amigos:

– Fico imaginando como deveria ser uma noite de festa aqui. As mulheres chegando de carruagem com seus vestidos longos…

– E os homens vestidos de fraque, cartola e bengala – completou Maísa.

– Quem será que morava antigamente neste lugar? – quis saber.

Todos se entreolharam buscando alguma resposta.

– Pelo jeito ninguém sabe – concluiu Miguel.

– Não se preocupem – falou Maísa que havia trazido novamente seu notebook – eu vou pesquisar a história do palácio e depois postar as informações.

Estávamos tão entretidos com nossos comentários sobre o palácio que nem percebemos a chegada de uma jovem, que se dirigiu até nós. Suas roupas combinavam com o lugar onde estávamos.

A semelhança com a garota que encontramos na Quinta da Boa Vista era muito grande.

– Nossa! Parece que ela é a irmã mais velha daquela garota da Quinta – exclamou Maísa, baixinho.

–É verdade – confirmei.

Como da outra vez a moça se aproximou do grupo e foi logo contando a história. Maísa, por sua vez foi novamente escrevendo no blog tudo que ela falava:

10 de maio de 2011

Garota misteriosa?

Sobre mim

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A nossa personagem e sua irmã estavam tornando-se moças e o pai decidiu que era hora de procurar um marido para suas filhas.

Naquela época, os casamentos entre os filhos de famílias nobres eram arranjados pelos pais e serviam, na maioria das vezes, para atender a seus interesses sociais ou políticos.

Com esse objetivo, vieram para o Brasil dois pretendentes oriundos de famílias nobres da França para serem apresentados às suas futuras esposas.

O francês Gastão estava prometido para a filha mais nova, e seu primo Augusto, para nossa personagem. Mas esta se encantou por Gastão e, correspondida, obteve a permissão do pai para casar com ele. Então, no dia 15 de outubro de 1864, realizou-se o casamento da filha mais velha na capela imperial no Rio de Janeiro. No mesmo dia os noivos partiram para a lua-de-mel em Petrópolis. Na volta para o Rio de Janeiro, os recém-casados foram morar num paço muito bonito. Lá a jovem senhora promovia semanalmente uma reunião onde se podia ouvir música, conversar e dançar com o objetivo de incentivar a vida cultural e social no Rio de Janeiro. Além disso, ela participava da vida política, dominada por homens, na sua maioria maçons.

Foi neste ambiente que uma mulher católica, de apenas 24 anos, assumiu pela primeira vez o lugar de seu pai quando este se ausentou do Brasil. Nesse período, por quase um ano, ela tomou algumas decisões importantes que desgostaram os poderosos.

Ela tinha como um de seus principais objetivos devolver a liberdade para os escravos. Uma das formas encontradas para conseguir seu intento foi promover a alforria de alguns deles com dinheiro próprio. Em sua luta, ela contou com o apoio dos abolicionistas, grupo formado por literatos, religiosos, políticos e pessoas do povo.

Na segunda vez que substituiu seu pai, ela, com apoio dos abolicionistas, conseguiu que fosse aprovado no Congresso a Lei do Ventre Livre, livrando da escravidão os filhos dos negros nascidos a partir daquela data.

Seus opositores, percebendo que nossa personagem tinha pulso e prestígio para levar adiante várias medidas que iam contra seus interesses, iniciaram uma campanha de difamação contra o casal. A partir daquele momento a nossa personagem ou a ser atacada pela imprensa e ser alvo de comentários maldosos. Falavam que ela era feia, carola, boba e que não era patriota. Os nacionalistas brasileiros começaram também a destratar o seu marido, que era francês. Ele sofria de surdez e foi alvo de piadas, sendo chamado de surdão e arrogante.

ados alguns anos de casada, nossa personagem começou a sofrer pressão para que tivesse um filho. Apesar da sua intensa participação na vida cultural e política, ser mãe, para a mentalidade das pessoas daquela época, era a principal função da mulher.

Era arriscado ter filhos depois de uma certa idade, mesmo para as senhoras da elite. A falta de recursos médicos tornava comum as mulheres falecerem durante o parto. Mas, finalmente, quando o casal comemorava 11 anos de casamento aconteceu o nascimento do herdeiro.

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Neste ponto a moça interrompeu o relato e foi embora. Não consegui conter a minha indignação diante das calúnias que nossa personagem sofria.

– Aqueles machistas não se conformavam de serem chefiados por uma mulher – comentei com meus amigos.

O Felipe nem me escutou, começou a gritar e a dar pulos.

– Consegui resolver a charada!

Todos ao redor ficaram nos observando, mas Felipe nem se importava e continuava a comemorar:

– Paço Imperial, Paço Imperial – falava entusiasmado.

O restante do grupo também ficou agitado e imediatamente marcou nossa próxima visita.

– Vamos embora Isabel, precisamos postar no blog o nosso próximo desafio – falaram Felipe e Maísa.

– Hoje eu estou muito cansada – falei – vamos deixar isto para amanhã.

– Você está louca Isabel,– reclamou Felipe.

– Vá descansar, Isabel, e não se preocupe, nós faremos tudo – prometeu Maísa.

Realmente era preciso atualizar o blog, pois a história estava atraindo um número significativo de visitas, tanto que chegou a receber mais de 2.000 os somente num dia.

Três dias depois ficamos surpresos ao verificarmos que, na frente do Paço Imperial, mais de 30 pessoas, a maioria estudante e até um professor da escola, aguardavam curiosas para ouvir a última parte da história. Todos queriam ser o primeiro a decifrar o mistério do brinco.

Desta vez não tivemos que esperar; minutos depois da nossa chegada surgiu uma senhora, muito parecida com as anteriores. E assim repetiu-se o ritual, ela se aproximou e começou o relato. Enquanto Maísa anotava tudo.

13 de maio de 2011

Por que elo está vestida de Princesa Isabel?

Sobre mim

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O pai da nossa personagem, D. Pedro II, estava muito doente a fazia tratamento na Itália. Pela terceira vez a Princesa Isabel assumia a regência do trono, totalizando mãos de três anos como chefe de Estado.

A Princesa retomou seu objetivo de pôr um ponto final na escravatura, porém, todas as suas iniciativas sempre encontraram forte resistência dos escravagistas.

Para identificar a luta pela libertação dos escravos a Princesa adotou como símbolo a camélia branca. O que levou a Princesa a associar a flor ao abolicionismo foi um episódio curioso. Certo dia, ela recebeu uma braçada de camélias vindas do quilombo do Leblon, onde se cultivava flores com o auxílio de escravos fugidos.

Encantada com o presente, ela resolveu plantar mudas da flor em sua casa de veraneio. A camélia era uma flor estrangeira que necessitava de cuidados muitíssimos especiais para ser cultivada no Brasil. Apesar das dificuldades, as mudas floriram rapidamente e, assim, a Princesa associou o sucesso do florescimento com a vitória da luta pela abolição. A partir desse dia, a Princesa Isabel costumava fazer aparições públicas com uma camélia nas mãos. Para bons entendedores, o gesto revelava sua simpatia pela causa abolicionista.

Além da forte oposição das elites escravagistas e dos militantes descontentes, eram tensas também as relações entre a Regente e o Gabinete Ministerial, que defendia a manutenção da escravidão.

Mas isso não intimidou a Princesa. Disposta a acabar com a escravidão no Brasil, ela substituiu os integrantes do gabinete contrários à abolição e nomeou o abolicionista João Alfredo Corrêa de Oliveira como ministro que, a pedido da Princesa, enviou ao parlamento para votação um projeto de lei que previa o fim da escravatura.

E como foi isso? – perguntou Maísa, intrigada.

A senhora sorriu e prosseguiu:

Para pressionar o Congresso a aprovar a Lei da Abolição, a Princesa adotou como estratégia entregar 103 cartas de alforria para alguns escravos um mês antes da da Lei Áurea. Seus aliados e amigos ponderaram que a decisão de promover uma abolição incondicional, sem qualquer indenização aos senhores de escravos, ia contra os interesses dos ricos senhores de engenho e de fazendeiros e que tal ato poderia, sim, ter como consequência o fim da monarquia. Apesar das advertências, a Princesa estava determinada a realizar seu sonho de ver o país livre da mancha escravagista.

Em 13 de maio de 1888, num domingo, aconteceram as últimas votações do projeto. Certa da vitória, a Regente viajou de Petrópolis para o Rio de Janeiro para aguardar no Palácio Imperial o momento de a Lei Áurea.

Curiosa, queria saber como reagiu a população. Foi quando perguntei:

– A população acompanhava o desenrolar desta votação?

No Paço da Cidade, desde o inicio daquela tarde, uma multidão de aproximadamente dez mil pessoas espremia-se para esperar a chegada da Princesa Isabel. Podia se observar no meio da multidão, negros, gente do povo, da alta sociedade, autoridades e funcionários públicos. As sacadas das casas das ruas ao redor do palácio estavam decoradas com toalhas bordadas e ornamentadas com flores.

Pouco antes das 3 horas da tarde foi anunciada a chegada de Sua Alteza, acompanhada de seu marido, o Conde D'Eu. Ela usava um vestido de seda de cor pérola com rendas.

O povo entusiasmado aclamava a Princesa, abrindo alas para dar agem ao casal. Das sacadas um grande número de senhoras jogava flores sobre a Princesa. O casal subiu as escadas do palácio e se dirigiu até a Sala do Trono onde iria acontecer a cerimônia.

Na ocasião, a Princesa Isabel recebeu vários presentes, entre eles a famosa caneta de ouro, cravejada de brilhantes e rubis, especialmente confeccionada para a Lei Áurea.

O povo, que se aglomerava em frente ao Paço, ao saber que já estava sancionada a lei que dava liberdade a todos os escravos do Brasil, gritava o nome da Princesa, chamando-a de "a Redentora".

Quando ela apareceu na janela, o povo aplaudiu entusiasmado e dava vivas não só à Princesa, como também aos abolicionistas.

Após a cerimônia da , as bandas de música executaram o Hino Nacional e o povo emocionado acompanhou cantando.

As comemorações prolongaram-se até a noite.

Acabada a festa oficial foi dado início às comemorações populares que durou uma semana.

No ano seguinte, cinco meses antes da proclamação da República, se repetiram os festejos para comemorar o primeiro aniversário da abolição. O prestígio e iração popular, não só pela Princesa, mas também pelo Imperador, era muito grande.

Porém, a alegria durou pouco para a família real.

– Credo! Mas por quê você diz isso? – Perguntou Felipe, atônito.

A gravidade da saúde do Imperador e o temor de que em virtude de sua morte a Princesa fosse aclamada Imperatriz motivaram muitos fazendeiros escravagistas a se aliarem com os republicanos. Como previsto, no dia 15 de novembro de 1889, esse grupo, juntamente com militares descontentes, conseguiu realizar seu objetivo: derrubar a monarquia e proclamar a república.

O governo provisório, uma vez constituído, enviou uma carta a D. Pedro II informando-o do banimento da família imperial do território brasileiro. Colocava, ainda, à disposição do Imperador, cinco mil contos de ajuda de custo para seu estabelecimento no estrangeiro. O Imperador não aceitou o dinheiro e manifestou-se contrário também pela precipitação do embarque.

Os republicanos temiam uma possível reação monarquista e decidiram que a partida do Imperador e sua família fosse feita o mais rápido possível. Depois de ouvir as ponderações que lhe foram feitas, o Imperador consentiu em partir àquela hora para evitar conflitos inúteis.

“Não sou negro foragido”, teria dito o Imperador na ocasião.

A família real teve 24 horas para deixar o Brasil, partindo exilados para a Europa.

Naquele ponto encerrou- se a narrativa e a senhora assim como chegou se preparava para ir embora. Estávamos emocionados com a história e queríamos saber mais detalhes sobre os acontecimentos. Antes da nossa narradora partir perguntei-lhe:

– Será que a Princesa Isabel não se arrependeu de ter assinado a Lei Áurea?

Para minha surpresa ela ficou satisfeita com a pergunta, mas respondeu de forma sucinta:

– Na partida para o exílio a Princesa Isabel, ando junto à mesa onde havia assinado a Lei Áurea, bateu em cima e disse:

"Mil tronos eu tivesse, mil tronos eu daria para libertar os escravos do Brasil".

Percebendo a receptividade da nossa interlocutora, surgiram novas perguntas

– Você saberia me descrever como foi o momento da partida? – Indaguei

Novamente ela nos respondeu de forma mecânica, sem nenhuma emoção, como houvesse decorado aquele texto:

Na madrugada de 17 de novembro, a família imperial embarcou para a Europa.

Era uma noite chuvosa e escura e os membros da Família Imperial, entre eles o imperador, a imperatriz, a Princesa Isabel, o Conde D´Eu e os filhos do casal foram levados no vapor Alagoas que os conduziu à Europa. Acompanharam também a família Imperial outros membros da corte e alguns amigos.

Até deixar as águas territoriais brasileiras, o Alagoas foi escoltado pelo navio de guerra Riachuelo, pois havia o receio de que D. Pedro II tentasse desembarcar em algum ponto do nosso litoral.

Ousei fazer mais uma pergunta, pois queria saber como a princesa Isabel viveu longe de seus amigos e da sua pátria.

Apesar da dor do exílio, a Princesa Isabel teve uma velhice tranquila, instalada no castelo da família na Normandia, na França. Rodeada pelos filhos e netos, fez de sua casa uma embaixada informal do Brasil. Recebia brasileiros de agem e deu apoio ao jovem Alberto Santos Dumont quando este desenvolvia sua invenção e testava seus aviões. ou os últimos anos da vida com dificuldades de locomoção, precisando do auxílio de uma cadeira de rodas. Em 1920 teve a felicidade de saber que a lei que bania a Família Imperial do Brasil havia sido revogada pelo Presidente Epitácio Pessoa.

Em janeiro de 1921, um navio de guerra brasileiro trouxe ao Rio os corpos do imperador e da imperatriz, acompanhados pelo Conde D'Eu e Pedro, então o único filho vivo do casal. D. Isabel estava doente demais para a viagem. Morreu em 14 novembro de 1921, em Paris.

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[ainda sem comentários]

Desta vez, acompanhamos a senhora até o portão do palácio e, apesar da nossa despedida calorosa, a senhora se manteve um pouco distante

Depois que ela foi embora, por alguns instantes ficamos quietos, emocionados com a narrativa.

Felipe quebrou o silêncio:

– Isabel, afinal de quem é este brinco? – perguntou.

– Da Princesa Isabel, é claro! – respondeu Maísa.

– Eu não sei a quem pertenceu esse brinco – respondi –, só sei que não é da Princesa.

– Lógico que é, retrucou Felipe

– Por que alguém iria me enviar um brinco de uma pessoa já falecida? – falei irritada.

– Se não é da Princesa…

– Por favor, não me perguntem mais nada – interrompi, e fui embora.

Em casa, reli todos os posts anteriores, para ver se conseguia compreender o significado daquele enigma. Pensei em várias hipóteses, mas todas me pareceram absurdas. Quanto mais eu pensava, mais dúvidas surgiam. O jeito era esperar para ver o que iria acontecer.

Na manhã seguinte, todo mundo na escola só falava sobre os acontecimentos do dia anterior. A professora Sandra aproveitou o episódio para nos falar um pouco sobre Princesa Isabel.

Nunca pensei que o tema da libertação dos escravos fosse tão polêmico e causasse um debate tão entusiasmado.

Logo de início, um dos alunos, Joel, um dos alunos mais bem informados da sala, provocou a professora:

– Se a Princesa Isabel era tão boa, porque abandonou os escravos depois da libertação?

– A Princesa Isabel, tinha um projeto de reintegrá-los à sociedade.

– Mas quem garante que isso é verdadeiro? – questionou Joel interrompendo a professora.

Nesse instante, a professora Sandra pegou uma revista onde estava publicada uma carta da Princesa Isabel endereçada ao Visconde de Santa Victoria, datada de 11 de agosto de 1889, e que permaneceu guardada por 117 anos, encontrada recentemente entre os de 3 mil documentos do acervo do Memorial Visconde de Mauá.

Fonte: Revista Nossa História Ano 3 / nº 31 - Editora Vera Cruz - maio 2006

“Fui informada por papai que me collocou a par da intenção e do envio dos fundos de seo Banco em forma de doação como indenização aos ex-escravos libertos em 13 de Maio do anno ado, e o sigilo que o Snr. pidio ao prezidente do gabinete para não provocar maior reacção violenta dos escravocratas. Deus nos proteja si os escravocratas e os militares saibam deste nosso negócio pois seria o fim do actual governo e mesmo do Império e da caza de Bragança no Brazil. (… ) Com os fundos doados pelo Snr. teremos oportunidade de collocar estes exescravos, agora livres, em terras suas proprias trabalhando na agricultura e na pecuária e dellas tirando seos proprios proventos. Fiquei mais sentida ao saber por papai que esta doação significou mais de 2/3 da venda dos seos bens, o que demonstra o amor devotado do Snr. pelo Brazil. Deus proteja o Snr. e todo a sua família para sempre!”

– Vejam, esta carta comprova que a Princesa Isabel tinha planos de utilizar um fundo depositado no Banco Mauá para comprar terras onde os ex-escravos, ali assentados, poderiam produzir seu sustento.

– E por que este plano não deu certo? – perguntei.

– Não deu tempo para colocar em prática o projeto. Três meses e quatro dias depois que ela escreveu aquela carta foi implantada a República – respondeu a professora.

– Professora, mas a Princesa Isabel não foi a única responsável pela abolição – contestou Joel.

– Realmente, a luta política pela abolição da escravatura, não foi obra de uma só pessoa. Além da Princesa, participaram também como agentes desse processo líderes negros e abolicionistas.

Ao lado deles engajaram-se inúmeros escravos e ex-escravos, homens e mulheres anônimos, brancos e negros, pessoas de origem humilde e abastada, advogados, artistas, intelectuais e homens da imprensa. Cada um contribuiu à sua maneira para por fim à escravidão.

– É verdade que o próprio Exército também ajudou? – perguntou Felipe.

– É verdade Felipe. Depois da Guerra do Paraguai os militares brancos que lutaram lado a lado com soldados negros recusavam-se a perseguir escravos fugidos, explicou a professora.

– E a Inglaterra, que papel teve na abolição?

– Todo mundo sabe que a Inglaterra queria acabar com a escravidão no Brasil. Mas não por que eles eram bonzinhos, falei.

– É verdade Isabel. A Inglaterra, depois de acabar com a escravidão nas suas

colônias, pressionou o Brasil a seguir o mesmo caminho. Além dos interesses humanitários havia por parte da Inglaterra o desejo de ampliar a venda de seus produtos. Para isso era fundamental substituir o trabalho escravo pelo assalariado.

– Terminaram as perguntas? Perguntou a professora Sandra.

– Terminamos – respondemos juntos.

– Para finalizar a aula, quero ler mais um pedaço da carta – disse a professora – Neste trecho a Princesa Isabel demonstra que estava engajada também em outra campanha: pelo voto feminino.

“Quero agora dedicar-me a libertar as mulheres dos grilhões do cativeiro doméstico, e isto será possível através do sufrágio feminino. Se a mulher pode reinar, também pode votar”.

– Fico imaginando, completou Maísa, como será que ela conseguiu assumir o poder numa época em que as mulheres no Brasil não tinham nenhum direito.

Antes de sair da sala a professora veio falar comigo. Pediu-me emprestado o brinco por alguns dias. Apesar de achar meio estranho o seu pedido, concordei.

Sete dias se aram e a história do brinco da Princesa caiu no esquecimento e eu acabei me convencendo que o caso estava encerrado. Mas acho que me enganei.

Numa segunda-feira em que eu não fui para a escola porque estava resfriada, a Maísa me telefonou para me contar as novidades. Do outro lado da linha ela me explicou que a professora Sandra tinha conseguido para nossa turma um eio até Petrópolis.

– E o melhor de tudo Isabel, é que vai ser de graça – falou empolgada.

– Maísa, nem acredito…

– Espero que você já esteja bem para ir junto…

– Eu irei neste eio de qualquer jeito.

No dia marcado acordei cedo e minha mãe, me levou para escola de carro. Quando cheguei, outros alunos já aguardavam, com seus pais na frente do portão, o ônibus

A professora continuava ainda dentro do colégio acertando os últimos detalhes com a diretora.

Às oito horas o ônibus encostou e o motorista abriu a porta.

Enquanto a professora Sandra conversava com nossos pais aproveitamos para entrar no ônibus sem a autorização dela. Foi engraçado porque todo mundo quis entrar ao mesmo tempo e sentar na cadeira da frente. Cada um que sentava na cadeira era arrancado à força, e aí ficamos nos empurrando para ver quem conseguia permanecer sentado naquele lugar.

Logo em seguida, depois de se despedir dos pais, a professora Sandra entrou no ônibus e ficou superirritada com a bagunça e avisou:

– Desse jeito nós vamos cancelar nossa viagem e voltar para sala de aula. E, além disso, aqui é o meu lugar. Vão se acomodando nos bancos lá atrás.

Num instante todos ficaram quietos e só depois que todos estavam acomodados saímos para nosso destino.

O silêncio durou pouco, logo estava a maior bagunça. Foi então que a professora resolveu fazer uma brincadeira: “Qual é a música”. Foi incrível, a cada desafio que a professora lançava sempre o Felipe ou a Maísa cantavam uma música que tivesse na letra a palavra solicitada.

Todos ficaram surpresos e perguntamos como eles sabiam tantas músicas.

Os dois, que são vizinhos, confessaram que desde pequenos eles costumavam brincar de qual é a música.

Quando estávamos quase chegando a Petrópolis a professora veio até o lugar onde eu estava sentada para me devolver o brinco.

– O que eu faço com isso? – Perguntei desanimada.

– Guarde, quem sabe você ainda encontre a Princesa – falou brincando.

– Tudo é possível – respondi com ironia.

Antes de a gente descer do ônibus a professora explicou:

– Pessoal, nós vamos começar nosso eio pelo Museu Imperial, antigo palácio de verão da família real.

No hall de entrada, a nossa guia, Vanessa, esperava para nos acompanhar para um tour pelo museu. Ela era muito engraçada e só chamava a gente de “amiguinhos”.

Iniciamos pela sala de jantar onde pudemos conhecer os móveis, as porcelanas e os cristais usados pela família real.

Na sala de música vimos alguns instrumentos antigos como uma harpa dourada e

outro instrumento em madeira, tipo um pequeno piano, com um nome estranho “espineta”.

– Aqui nesta sala, nos explicou a guia, a imperatriz Tereza Cristina sempre organizava recitais nos quais se reuniam, além da família, a corte, artistas nacionais e estrangeiros. Todos participavam e cantavam animadamente ou tocavam algum instrumento.

– Onde era o salão de bailes? Perguntei.

– D. Pedro II não era um imperador festeiro. Quase não dava bailes. Foi só em viagens à Europa que as Princesas puderam participar de bailes, recepções e de outras diversões da vida aristocrática.

– Os membros da família real tinham um gosto especial pela música e havia entre eles um compositor famoso. – Quem era ele? – perguntou nossa professora

Como ninguém respondeu ela resolveu nos dar uma dica.

– Foi ele que compôs a música do Hino à Independência do Brasil – disse, dando uma pista.

– Foi D. Pedro II – arrisquei.

– Uhuuuu – recebi uma vaia.

– Foi o pai dele – falou Maísa.

– Realmente, a música foi composta por D. Pedro I e a letra é de Evaristo da Veiga – esclareceu a professora Sandra.

Depois fomos conhecer o gabinete de trabalho de D. Pedro II.

– Aqui era o refúgio predileto do imperador. Era o lugar onde ele ava a maior parte do dia lendo ou escrevendo cartas para seus amigos, intelectuais e cientistas de várias partes do mundo.

A guia chamou nossa atenção para um objeto que estava em cima da escrivaninha do Imperador.

– Observem este telefone, feito em madeira e porcelana – disse ela.

– Puxa! Eu não sabia que havia telefone na época do Império! – falei irada.

– Este foi o primeiro que veio para o Brasil, trazido em 1876 dos Estados Unidos por D. Pedro II.

– Agora vamos conhecer a Sala de Joias – falou a nossa acompanhante.

– Puxa, não vejo a hora de conhecer as joias da Princesa Isabel – comentei.

– Você deve estar ansiosa para devolver o brinco para ela – debochou um amigo.

Para evitar que a brincadeira tomasse conta do grupo a professora Sandra falou para continuarmos a nossa visita, que ainda tínhamos muita coisa para ver.

Antes de nos dirigirmos até a Sala de Joias, paramos no corredor para observar um quadro.

Enquanto a guia explicava o significado daquela pintura, Maísa chamou Felipe e eu para seu lado e perguntou:

– Que tal nós irmos agora até a Sala de Joias para conferir se a Princesa tinha algum brinco parecido com o que chegou pelo correio.

– Boa ideia! – concordamos.

Sem que ninguém percebesse, nos afastamos do restante da turma. Quando chegamos, a sala estava fechada e as luzes apagadas. Para não chamar a atenção, resolvemos abrir apenas as cortinas. Entramos e, mesmo na penumbra, vimos no meio da sala um vulto parado de costas. Nos aproximamos e constatamos que se

tratava de uma senhora. Ela imediatamente se virou e pudemos perceber que estava usando, numa das orelhas, um brinco igual ao que eu recebi. Levamos o maior susto.

– Prin-ce-sa Isa-bel… – balbuciei, com dificuldade.

Meus amigos saíram correndo.

– Professoooraa!!!! – O fantasma da Princesa Isabel – gritavam.

Também queria correr, mas não consegui. Minhas pernas ficaram moles e fiquei ali parada esperando o que iria acontecer. A mulher foi se aproximando, se aproximando… Parou na minha frente e estendeu-me a mão dizendo:

– Obrigado por trazer de volta o meu brinco – falou, amavelmente.

Confusa, tirei o brinco da mochila e o devolvi.

Naquele instante as luzes foram acesas. Olhei para o lado vi a professora Sandra que acabava de chegar. Ela me abraçou e disse:

– Desculpe Isabel, eu não pensei que vocês iriam se assustar tanto… porém, ninguém ia imaginar que vocês entrariam nesta sala sozinhos – disse ela.

– Professora! – Eu não estou entendendo mais nada. Poderia me explicar o que está acontecendo? – questionei.

– É claro que sim, Isabel.

Saí daquela sala apoiada na professora, meus amigos me esperavam na porta, ainda assustados.

Enquanto ela reunia toda turma eu, Felipe e Maísa aguardávamos sentados nos trazerem um copo de água com açúcar.

– Puxa! Que susto! No escuro parecia o fantasma da Princesa! – falou Felipe querendo justificar o escândalo que fez.

– Nem estava tão escuro assim para você se confundir – discordei.

– Mas a mulher era igualzinha ao retrato que eu vi da Princesa.

– Tá bom – concordei para encerrar o assunto.

– Isabel, o que mais me impressionou foi sua coragem de ficar na sala sozinha – falou Maísa.

– Obrigada – respondi sem explicar o verdadeiro motivo da minha permanência na sala.

Nesse instante a professora foi até nós e perguntou:

– Como vocês estão?

– Aquilo não foi nada – falou Felipe para mostrar sua valentia.

– Então vamos para o refeitório que eu devo uma explicação para todos vocês.

Depois que estávamos acomodados a professora iniciou sua explicação.

– Participei de uma reunião, com um grupo de professores de história, que tinha por objetivo divulgar para os jovens a vida da Princesa Isabel.

Queríamos que nossos alunos conhecessem um pouco além do enfoque historiográfico apresentado na maioria dos livros didáticos sobre a participação da Princesa Isabel na abolição da escravatura. Segundo essa versão, a princesa teria sido uma personagem secundária, sem nenhum envolvimento com a luta pela abolição e que seu único mérito foi a Lei Áurea no período que substituía seu pai, D. Pedro II, que estava no exterior.

Pensamos, então, em encontrar uma forma divertida e instigante para questionar os estereótipos recorrentes da princesa como submissa e carola. Nosso objetivo era resgatar a personalidade da mulher de vanguarda que enfrentou preconceito de gênero por subverte o discurso acerca dos papéis sociais atribuídos às mulheres. Da governante corajosa que ousou enfrentar a poderosa elite escravocrata que lhe apoiava até então e, sobretudo, da princesa determinada que, mesmo pondo em risco a própria monarquia, concretizou seu projeto político de por fim a escravidão no país. Foi então que tivemos a ideia de criar a história do brinco que todos vocês já conhecem.

Olhei para os meus colegas e percebi que todos estavam surpresos. Ninguém poderia imaginar que por trás daquele desafio estava a nossa pacata professora.

– Bem, quero agradecer a todos e principalmente ao Blog da Bel que foi o canal de divulgação do nosso projeto.

Quando ela terminou as explicações uma enxurrada de perguntas surgiram:

– E aqueles lugares que fomos em busca de informações? – perguntaram.

– Todos eles têm uma ligação direta com a vida da Princesa. A Quinta da Boa Vista foi o local de seu nascimento. O Palácio Guanabara foi onde a Princesa morou quando recém-casada. O Paço Imperial foi o lugar onde assinou a Lei Áurea. E aqui, neste palácio, ela ava suas férias de verão.

– E todas aquelas mulheres? – tornaram a perguntar.

– Eram artistas que se pareciam com a Princesa nas diferentes fases de sua vida.

– Alguém tem mais alguma pergunta – indagou a professora.

Levantei a mão.

– Fale, Isabel.

– Como vocês sabiam o dia e horário que nós iríamos até local dos desafios.

– Nós acompanhávamos tudo pelo blog.

– E ainda dizem que ninguém lê… – sussurrou Maísa.

– Psiu – interrompi.

– Professora…, professora…

– Sim, Felipe.

– E a agradável surpresa de que falava o bilhete.

A professora Sandra se aproximou de uma porta do refeitório e bateu palmas.

Todos se perguntavam qual seria a próxima surpresa.

Abriram-se as portas e começaram a entrar na sala garçons trazendo bolos, salgados, doces e refrescos.

– Este lanche foi preparado com as receitas da época da Princesa Isabel – explicou a professora.

Olhei para meus amigos e disse:

– Felipe, tire fotos de tudo; Maísa anote o que está sendo servido.

– O Blog da Bel vai continuar.

Todos aplaudiram e saíram correndo para saborear os quitutes trazidos pelos garçons.

Novamente começou a confusão na hora de comer. Olhei para a professora esperando que ela desse a maior bronca, mas isso não aconteceu.

Ela sorria, estava tão feliz por ter alcançado seu objetivo que apenas falou baixinho.

– A Princesa Isabel ia ficar feliz de ver a festa que fizemos em sua homenagem.

SINOPSE

A história tem como alvo o público infanto-juvenil e tem como protagonista uma garota, Bel, que um dia recebe, pelo correio, um brinco antigo e uma carta propondo-lhe um desafio: descobrir a quem pertenceu àquela joia. Para decifrar este enigma ela terá que percorrer alguns lugares históricos do Rio de Janeiro e, entrará em contato com pessoas que lhe contarão sobre a vida da dona do brinco. Todas estas aventuras serão postadas por Bel no seu blog. Com ajuda de seus amigos descobrirá que a verdadeira dona do brinco é uma princesa assim terá inicio um novo mistério.

Por que alguém enviaria para Bel um brinco de uma pessoa já falecida?

Blog da Bel

© Copyright 2011,

Autora: Sonia Beatriz Leite Ferreira Cabral

Edição: Karina Quadrado

Preparação de originais e iconografia: Silvia Kasprzak

Ilustração:Cristiano Tsuruda Procopio | Róger Borges Araujo

Projeto gráfico: Róger Borges Araujo

ISBN 978-85-63654-78-6

Todos os direitos desta edição reservados a

Edição digital: agosto 2011

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